quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sobre vagalumes

Quando criança, eu morava no sítio. Hoje em dia, descobri que é mais bonito falar que era no campo, ou então, na roça, se quiser um efeito mais pitoresco. Mas era no sítio que eu morava, a roça, para mim, era onde ficava a plantação. E campo, esse, era o de futebol. Mas na faculdade, ou no mundo da poesia, é mais bonito falar em "campo"... Enfim, quando eu morava no sítio, era muito comum ver vagalumes durante a noite, havia aos montes! Sempre achei que se tratava de um bichinho meio mágico, mas eu não era tão inocente, e desde que comecei a ler já sabia se tratar de uma reação química natural do animal. Eu descobri isso na minha enciclopédia, linda, de capa vermelha, que tinha vários volumes, chamada Enciclopédia Júnior Anglo Brasileira - lá eu aprendia de tudo um pouco, tanto sobre vagalumes quanto sobre borboletas, lendas, dinossauros e fatos históricos. Mas nunca deixei de fantasiar que eles eram meio mágicos, sempre os imaginava como aquelas fadinhas iluminadas dos filmes. Às vezes eu os prendia em uma caixa de fósforo, mas logo soltava, porque eles não iluminavam tanto quando viam-se presos. Também costumava segurá-los dentro da mão, e assim tinha uma mão iluminada. Mas o bonito era vê-los voando.
Então eu cresci, o sítio virou campo e não vejo mais vagalumes. Graças aos pesticidas, existem poucos deles na "roça", assim com há poucas borboletas... E nas cidades, graças à forte luz artificial, os poucos que existem acabam perdendo sua luz natural, o que atrapalha a reprodução da espécie. Mas outro dia, mesmo estando numa dessas cidades onde não há mais noite, fui visitado por centenas deles, agraciado com sua luz e sua dança... mas foi apenas um sonho. E sabemos que nos sonhos tudo pode acontecer.

domingo, 26 de agosto de 2007

Roxette Review - Parte 3 (última)

1999 - Have a nice day

Depois de cinco anos sem um álbum de músicas inéditas, o Roxette aparece com o seu trabalho mais controverso. Have a nice day mostrava uma banda interessada em atualizar seu som, especialmente em faixas como Crush on you, 7Twenty7 e Stars, carregadas de uma batida dançante muito contemporânea. Stars, aliás, é uma de minhas favoritas: digo sempre que trata-se de uma música muito ambígua, pois sua atmosfera "dance" oculta, na verdade, uma balada das mais românticas, com coro de crianças no refrão e tudo mais. Seu vídeo em preto-e-branco é surreal, mostrando Marie como uma rainha louca que persegue o homem que ama, e, para conquistá-lo, se desdobra, grita e inclusive nada ao lado de patinhos de borracha em um lago sueco! Porém, o disco traz ainda baladas das mais apaixonadas, como Anyone, Wish I could fly e Salvation, que também recebeu um vídeo bem curioso... Além desses singles, destacam-se I was so lucky e duas composições de Marie, Waiting for the rain (letra e música) e Beautiful things (música). Trata-se de um disco controverso porque nem entre o fãs da dupla é unanimidade, muitos dizem que se afasta do som tradicional do Roxette, geralmente mais carregado de guitarras do que de batidas dançantes. Eu discordo... o Roxette sempre teve músicas "dançaveis", e Have a nice day apenas atualiza esse som, sem, contudo, abandonar o pop tradicional que sempre foi a marca da dupla. Recomendadíssimo.


2001 - Room Service


Em 2001 surge Room Service, o último álbum de músicas inéditas do Roxette - depois dele vieram coletâneas com apenas algumas músicas inéditas. Trata-se de um disco bem feito. É isso. Todas as músicas são boas, bem próximas ao que o Roxette sempre fez, muitas músicas alegres, intercaladas por baladas. Entre as divertidas, Real sugar se destaca, até mais que a primeira música de trabalho, que foi The centre of the heart. Per Gessle mostra seu lado mais rock em Jefferson e em Make my head go pop lembramos da batida dance de Have a nice day. Milk and toast and honey foi a música mais bem sucedida, mas não é nem de longe a melhor coisa presente no disco. Os destaque, para mim, são Little girl (composição de Marie), Looking for Jane, It takes you no time to get here e My World, my love, my life, apesar de nenhuma destas terem sido músicas de trabalho. O CD, em geral, é muito bom... mas, pra mim, não é o melhor da banda. Uma música muito boa saiu apenas como b-side em um single, Entering your heart, e teria deixado o álbum mais completo. Não sinto no disco a energia notada em Have a nice day... penso nele como um prato bem feito, gostoso, mas que a gente sabe que falta alguma coisa. Claro, a proposta do disco anterior era a de um som atualizado, contemporâneo. Em Room Service, a dupla quis apresentar algo mais leve, divertido e descompromissado. Se fosse um vinho, eu diria que ele é honesto.

2002 - The ballad hits

Essa coletânea traz apenas músicas românticas, e como estas sempre foram a marca registrada do duo, trata-se de um lindo trabalho. Um bom presente para dar ao namorado ou namorada, ou para ouvir em momentos de bode... Mas, de fato, é um disco lindo. Ao lado do CD lançado no ano seguinte (The pop hits), é impossível não conceder ao Roxette um lugar de destaque na música pop internacional, uma vez que poucas bandas podem se dar ao luxo de ter duas coletâneas, em estilos diferentes, repletas de hits, lançadas praticamente ao mesmo tempo (poderia ter sido um álbum duplo, aliás). As inéditas Thing about you e Breathe comprovam essa qualidade e apenas elevam o nível do trabalho.

2003 - The pop hits

Complementando do disco anterior, essa coletânea traz apenas as músicas mais "animadas" da banda (up-tempo). Lá estão todas as músicas que combinam com uma viagem de carro ou uma festa na sua casa! Nele encontramos coisas como The look, Dangerous, Joyride, How do you do!, Stars e tudo aquilo que pode animar um ambiente. Se você mesmo arruma sua casa, é uma ótima trilha sonora para isso também. Trouxe as inéditas Opportunity Nox e Little miss sorrow.



2006 - A Collection Of Roxette Hits!
Their 20 Greatest Songs

Como comemoração aos 20 anos de banda, é lançado em 2006 uma outra coletânea, contendo todos os hits, entre up-tempo e baladas. Recomendado para quem quiser ter apenas um disco da dupla; lá você encontrará quase tudo que conhece. Das mais conhecidas, ficaram de fora Vulnerable, The big L., Fireworks, You don't understand me, Fingertips, Anyone, Salvation, Opportunity Nox, Real sugar, She doesn't live here anymore, Queen of rain, I don't want to get hurt e I'm sorry (as duas últimas, aliás, nunca foram lançadas como single, mas tiveram uma excelente execução nas rádios brasileiras)... caso goste muito de alguma dessas, deverá procurar em outros discos! Também foi lançado um Box (apenas na Europa) com muito mais músicas e dois DVD's, incluindo a sessão completa do acústico MTV de 1993.



Enfim, ao longo das três postagens procurei passar minhas impressões sobre os discos do Roxette. Tentei ser objetivo e direto, mas sei que inevitavelmente tudo o que está escrito é baseado nas minhas experiências.

É isso.


"I take you on a skyride
a feeling like you're spellbound
the sunshine is a lady
who rox you like a baby"

sábado, 18 de agosto de 2007

Roxette Review - Parte 2 (1993-1997)


(... continuação).

Em 1993, o Roxette compõe mais uma trilha sonora para o cinema. Trata-se da balada Almost Unreal, no filme Super Mario Bros. A música lembra muito o som do Roxette de 1991, com teclados e guitarras, ao ponto do seu compositor, Per Gessle, dizer trata-se de uma autoparódia. Originalmente, a música deveria entrar no filme Abracadabra (Hoccus Poccus), com Betty Middler, mas acabou caindo naquela porcaria que pouca gente teve o desprazer de assistir! A música, contudo, é bem interessante, e fez muito sucesso na Inglaterra. O vídeo, especialmente a versão sem cenas do filme, é interessante e merece uma espiada (disponível no VHS Don't bore Us - Get to the chorus! - Roxettes's Greatest Video Hits, de 1995 e em The Rox Box - 86-06). Contudo, nesse ano o Roxette começa a testar uma certa mudança em sua sonoridade, como pode ser visto na faixa 2 Cinnamon Street, da mesma trilha, e nas músicas do álbum de 1994, Crash! Boom! Bang!.


1994 - Crash! Boom! Bang!

Trata-se do álbum que trouxe o Roxette de volta ao cenário pop internacional. Repleto de guitarras e baterias, Crash! Boom! Bang! veio com força total e mostrou como um pop de qualidade pode ser feito. Nos show da turnê, o que se via era uma respeitável performance de rock, com duas baterias e muitas guiatarras em alto e bom som. Além da guitarras mais altas, a dupla inaugurou um novo visual que deixou muitos fãs assustados no começo, com Per de cabelos mais longos e loiros, e Marie com a cabeça raspada. O álbum teve cinco músicas de trabalho (singles), que foram Sleeping in my car, Crash! Boom! Bang!, Fireworks, Run to you e Vulnerable, todos muito bem sucedidos. No Brasil, na ocasião da vinda da dupla na turnê originária desse álbum, a música I'm sorry bateu recordes de execução em rádios, sem que ao menos a dupla ou mesmo a gravadora tivessem planejado. De maneira geral, o trabalho todo é ótimo e mostra um Roxette maduro, mas fiel ao pop-rock que os conduziu ao estrelato internacional. Minha favorita do disco é Crash! Boom! Bang!, balada que recebeu um clipe não menos interessante. Trata-se de um dos meus discos favoritos.

1995 - Rarities
Como o nome já adianta, o álbum traz composições raras da dupla, como versões demos, remixes, inéditas e faixas do MTV Unplugged, gravado pela banda em 1993, na Suécia. A maioria das faixas encontravam-se espalhadas em singles, que não são lançados no mercado brasileiro - por conta disso, esse CD foi lançado apenas no Brasil e em alguns países da Ásia. Destaque para as inéditas The sweet hello, the sad goodbye e The voice, e para as faixas do unplugged. Hoje em dia é realmente uma raridade, pois ficou apenas um ano no catálogo da gravadora EMI no Brasil. A compilação é do próprio Per Gessle.

1995 - Don't bore us - get to the chorus! Roxette's Greatest Hits
Em seu nono aniversário (por que não décimo?), a dupla laçou sua primeira coletânea de sucessos - uma obra prima, pois, de fato, todas as músicas selecionadas (14) foram hits indiscutíveis. Talvez merecem estar lá também as músicas Run to you e Fireworks, mas como eram do disco de 1994, talvez atrapalhassem suas vendas, já que ainda estava em catálogo. O CD trazia ainda quatro faixas inéditas, todas muito boas: June afternoon, You don't undertand me, She doesn't live here anymore e I don't want to get hurt. As três primeiras foram single e tiveram clipe, mas o grande sucesso no Brasil foi mesmo I don't want to get hurt - certamente, a mais bela entre todas.

1997- Baladas en español
No início, foi muito empolgante imaginar como seria Marie ou Per cantando em uma lingua tão parecida com o português, e, realmente, por algum tempo, foi. Mas das músicas selecionadas, talvez duas ou três acabaram recebendo uma versão minimamente razoável... o restante foi um fiasco. Acho que se a dupla tivesse se interessado em saber o que afinal estavam cantando, não teriam feito aquelas coisas. Acho que a intensão foi boa, afinal o ABBA também fez isso para "agradar" os fãs latino-americanos, e talvez o Roxette quisesse fazer o mesmo. Agora, para quem não se importa com as versões bobíssimas, o CD traz uma interessante coleção de músicas mais lentas da banda. Acho que salvam-se, apenas, e com ressalvas, Como lluvia en el cristal (Watercolours in the rain), Un dia sin ti (Spending my time) e No se si es amor (It must have been love). Ah, e mesmo sem saber o que estavam dizendo, a pronúncia da dupla ficou ótima... pelo menos!




(tem continuação...)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Roxette Review - Parte 1 (1986-1992)

Para mim, o Roxette é o que se pode chamar, ainda hoje, de uma banda cujo rótulo de pop (ou pop-rock) tem uma conotação muito séria. Trata-se de uma carreira de mais de vinte anos e uma contribuição efetiva ao pop europeu de boa qualidade. Assim, farei aqui um breve comentário sobre cada trabalho da dupla, respeitando a cronologia, em três postagens. Os comentários abaixo, ainda que sejam embasados em alguma objetividade, são muito pessoais...


1986 - Pearls of passion
Trata-se do primeiro álbum da dupla, lançado apenas em alguns países da Europa e Canadá. Em 1996 teve lançamento mundial, em razão dos 10 anos da banda. A maioria das músicas eram demos do cantor compositor Per Gessle, em sueco, e foram "convertidos" para o inglês para integrarem o disco. A primeira música de trabalho (single) foi Neverending Love. A sonoridade é bem anos 80 mesmo, e o álbum ainda não traz nenhuma identidade ao Roxette, mas as músicas são bem divertidas e já demonstravam o que estaria por vir, não só nas canções pop (up-tempo), mas nas baladas, que seriam, nos anos seguintes, a marca registrada do Roxette. Os destaques do disco são Soul Deep, Voices, Neverending Love, From one heart to another e So far Away. Na edição de 1996 o CD veio com faixas-bônus, com algumas inéditas, remixes, demos e a primeira versão de It must have been love, lançada em 1987 (a música, com novo arranjo, fez parte da trilha sonora do filme Pretty Woman, em 1990).

1988 - Look Sharp!
Foi o disco que inaugurou o Roxette no cenário pop internacional. Um estudande americano que fazia intercâmbio na Suécia levou uma cópia em K7 para sua cidade, Minneapolis, e a apresentou a uma rádio. Pouco tempo depois, com muita pirataria, a música The look ficava em primeiro lugar na para americana da Billboard - quano o disco foi lançado na América, em 1989, a música já era um sucesso absoluto. O álbum já vinha com mais personalidade, um pop seguro e dançante, e uma balada séria, Listen to Your Heart. Os outros destaques do álbum são Dangerous, Dressed for success, Paint, Dance Away e Cry. O CD traz uma faixa-bônus, (I could never) Give you up.

1991 - Joyride
Meu eterno favorito, Joyride consagrou o Roxette mundialmente, sobretudo por ter sido lançado logo após o estrondoso sucesso de It must have been love, no filme Pretty Woman, de 1990. O álbum foi sucesso instantâneo, e teve uma turnê mundial, que passou pelo Brasil. A música Spending my time foi trilha sonora da novela global Perigosas Peruas, e isso popularizou ainda mais a dupla entre os brasileiros. Os destaques são Joyride, Fading Like a Flower (everytime you leave), Spending my time, The big L., Watercolours in the rain, e Perfect Day (as últimas duas citadas não foram single, apesar do álbum ter lançado cinco deles). O CD vinha com três faixas a mais que o LP, e uma delas é Soul deep, que, originalmente lançada no álbum de 1986, aparece aqui em uma versão mais empolgante. A música menos interessante é Physical Fascination - a meu ver, a coisa mais boba que Per Gessle poderia ter feito na vida... Mas ela não consegue estragar o trabalho final, que é uma obra prima do pop dos anos 90, e o mais vendido da banda.

1992 - Tourism
Durante a turnê mundial Join the Joyride - 1991-92, o Roxette aproveitou a inspiração e a energia da banda para gravar seu álbum menos convencional. Contendo canções ao vivo, inéditas, b-sides e outtakes, Tourism foi gravado em estúdios e palcos do mundo afora, incluindo o estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, onde gravaram a música Fingertips e um night clube fechado de São Paulo, onde gravaram Never is a long time. Em Buenos Aires, gravaram duas músicas em quartos de hotel (So far away e Here comes the weekend). A atmosfera do disco é realmente diferente, apresentando-se mais adulta e menos pop-ish, com exceção do primeiro single, cujo refrão não saía das rádios e das bocas brasileiras em 1992: How do you do!, que foi um dos maiores sucessos do Roxette no Brasil. Os destaques do disco, contudo, são as músicas mais calmas, como The rain e So far away (que aparece no primeiro álbum, de 1986, mas ganha, aqui, um toque de classe com piano e acordeon). Com ares country, It must have been love aparece parte ao vivo, parte estúdio, e pouco lembra a versão "Julia Roberts". Um dos destaques do discos é a antiga Silver Blue, criada em 1988, balada curiosa que certamente é uma das melhores coisas presentes no disco. Um dos grande sucessos radiofônicos do álbum foi Queen of rain, que teve um belo clipe, com algumas locações no Monte Saint Michel, na França. O LP era duplo e trazia inúmeras fotos com imagens de cada local do mundo. Não foi um disco tão bem sucedido, sobretudo em comparação com o hit-maker Joyride, seu antecessor.

(tem continuação...)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Finais de partir o coração


Nesse momento está passando na TV um dos filmes que acho mais tocantes, Terra dos sonhos (In America, Jim Sheridan, 2003). Trata-se de uma história sobre a dor, sobre a dor que é viver, mas também sobre a esperança - ou a fé. Não vou escrever nada sobre o filme, simplesmente recomendo que você assista. E, da mesma maneira que o rapaz da locadora me disse quando aluguei o DVD há anos atrás, vou adiantar um detalhe que vai te deixar mais tranqüilo como espectador: no final, tudo dará certo. Não se preocupe, durante o filme você irá me agradecer, e nos momentos onde você estiver super agoniado com a história, pense que o que eu adianto são apenas "balas de limão"... O final desse filme é um daqueles que o dão um nó na garganta, e cujas lágrimas são inevitáveis. Mas não são lágrimas de tristeza... ou talvez sejam, mas uma tristeza boa, uma curiosa sensação de "vida".

Elegi outros dois filmes cujo final dá esse mesmo nó na garganta, e que eu igualmente recomendo... aliás, exorto que você assista:

A língua das mariposas (La Lengua De Las Mariposas, José Luís Cuerda, Espanha, 1999).

O castelo de minha mãe (Le chateau de ma mére, Yves Robert, 1990). Esse, em especial, precisa de um pré-requisito: assistir ao primeiro filme do diretor, que é A Glória de Meu Pai (La gloire de mon père), pois o segundo é uma continuação - a dica é que você alugue os dois juntos e assista necessariamente nessa seqüência.

Não vou comentar nada sobre os filmes. Apenas assista e se emocione, sobretudo com os finais, que nos levam pra tão longe, em um lugar estranho que é o nosso próprio coração.


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