sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Um pouco de animação

Como hoje não vou escrever nada, deixo aqui a sugestão de um vídeo clássico de animação, da Pixar. Ainda é um dos meus favoritos!



Título: For the birds
Ano: 2000

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Inversão de valores

Lembro-me como se fosse hoje, mas já faz um bom tempo que eu ouvia meus queridos discos de vinil, os LP's, como eram conhecidos (caso você não faça idéia do que estou falando, clique aqui). Eu adorava ficar nas lojas de discos, por horas, mesmo que não fosse comprar nada (geralmente não comprava mesmo), olhando as capas, os encartes... e como eu gostava de ouvi-los, lindos, rodando no toca-discos. Mas nem tudo eram flores, que saco quando riscava, ou quando a agulhar pulava por causa da poeira. Mas o pior era o barulinho que quase sempre se ouvia junto com a música, que parecia areia. Daí eu ficava imaginando como seria bom se eu trocasse todos os meus discos por CD's... era o meu maior sonho de consumo. Mas eram muito caros (estou falando de meados da década de 90 e, sim, eram muito mais caros que os LP's). Da mesma forma, eu ficava sempre olhando os CD's nas lojas, e como eu me irritava: além do som ser muito melhor, não tinha barulinho de areia, diziam que durava a vida toda e o encarte era maior, vinha com muito mais fotos. Fora isso, era comum virem faixas bônus, às vezes três ou quatro a mais do que nos LP's. Uma injustiça!
Mas, em meados da década de 90, percebi que os artistas que eu gostava simplesmente passaram a não lançar mais discos de vinil. Apenas CDs e k7's (que logo também sairiam de cena). E então eu também entrei na era da música digital. De repente o caro preço do CD foi naturalizado, pois o mercado sabe bem como fazer as coisas... E então três letrinhas mudaram tudo M-P-3 (aliás, duas letrinhas e um número!). Essa formato caiu como uma bomba e virou o mercado da música de ponta-cabeça (que atire a primeira pedra quem nunca baixou uma música em MP3 de forma não-oficial!).
Nem por isso o preço dos CD's diminuiu. Mas, como eu falei, o mercado tem suas regras, uma "mão invisível", diriam alguns... e agora é possível encontrar, nos grande magazines, discos de vinil para a venda. Mas com um diferencial: agora eles chegam como peças para colecionadores, fruto de uma produção quase artesanal de pequena tiragem, o que os deixou com um preço absurdo. Só pra citar dois exemplos populares: outro dia, na Livraria Cultura, vi um LP da Amy Winehouse pela bagatela de R$ 75,00, e um da Madonna, duplo, por meros R$ 215,00. Detalhe: na mesma loja, os respectivos CD's dessas cantoras não passavam dos R$ 30,00. Total inversão de valores!
E, claro, caso você não tenha mais seu velho toca-discos de agulha e resolva embarcar nessa onda retrô, prepare-se pra gastar em média R$ 3.000,00 na aquisição do aparelho.
É, ainda bem que tenho todos os meus queridos vinis guardadinhos em um local bem seguro. Do jeito que a coisa anda, eles ainda podem me render alguns bons trocados!



domingo, 24 de agosto de 2008

"Lemon Tree"

| atenção: o post contém algumas revelações sobre o enredo (spoilers) |

O filme começa com limões, muitos, vários, e vamos nos deixando seduzir pelo jeito com ela os fatia, um a um, de modo que quase sentimos o cheiro do sumo, chegando causar arrepios a sensação de azedo. Cada fatia é colocada em um pote, que, quase cheio, é completado com pimentas vermelhas igualmente fatiadas, um pouco de sal e óleo para conserva. Delicadamente ela fecha o pote, dá uma leve sacudida, e o coloca ao lado de outros vários, que já estão na prateleira. Por isso imaginamos que todo aquele trabalho é realizado como fonte de renda, e não para consumo próprio. Mas o carinho com que ela realiza a tarefa permite pensar que é também algo prazeroso. Trata-se de uma tradição, sua família cultivava limões há cinqüenta anos naquele mesmo lugar. Mas agora apenas ela habitava a velha casa, pois além de viúva, seus filhos, todos adultos, tinham suas próprias vidas. No cultivo dos limões era ajudada por um senhor que ali trabalhava há quarenta anos, e que a tinha como filha. A maneira como ela lidava com aquela pequena plantação, a julgar pela beleza das árvores e frutos, faz pensar como aquilo era algo sério em sua vida, que lhe garantia não apenas alguma renda, mas um passado, um história e, com isso, uma identidade, em um lugar onde isso era improvável. Agora explico: trata-se de uma mulher palestina, Salma, cujo quintal ficava bem na divisa com Israel. Tudo corria bem até o Ministro da Defesa construir sua residência em frente à sua propriedade. Alegando que a plantação de limões poderia servir como esconderijo para terroristas árabes, o Ministro ordena a destruição de todos os limoeiros. Apesar da possibilidade de receber indenização, Salma não aceita essa decisão, e passa a lutar judicialmente contra Israel, em um embate que ganha a mídia e põe em questão a liberdade individual e os limites de um Estado autoritário.
A plantação de limões, algo aparentemente prosaico e pequeno demais em relação às questões como a defesa do país, a guerra, etc, altera o modo de vida de todos os personagens, e deixa evidente, em uma análise mais geral, como o indivíduo, especialmente naquela sociedade, é totalmente anulado em razão de algo maior. Suas vontades não poderiam existir, a menos que elas coincidissem com a vontade do Estado.
Porém, se o filme não tem exatemente um final feliz, ele aponta algumas possibilidades, sugerindo que o indivíduo pode, sim, ter algum espaço de ação, ainda que os resultados sejam, aparentemente, insignificantes. Mas vale a pena perceber que o esforço não foi em vão. No final, um grande muro de concreto seria levantado entre as duas propriedades, de modo que o Ministro da Defesa teria em seu jardim uma enorme sombra, enquanto o sol reinava soberano sob os limoeiros de Salma que, apesar de mutilados, permaneceram vivos.




sexta-feira, 22 de agosto de 2008

*Crie seu próprio álbum*

Então, vi essa brincadeira num blog amigo e achei divertido. Por isso passo adiante... vá lá, veja como ficaria o seu próprio CD:

1) Acesse http://en.wikipedia.org/wiki/Special:Random - o título da primeira página aleatória que aparecer será o nome da sua banda.
2) Vá pra http://www.quotationspage.com/random.php3 - as últimas quatro palavras da última frase da página formarão o título do seu disco.
3) Acesse http://www.flickr.com/explore/interesting/7days/ - a terceira foto, não importa qual seja, será a capa do seu disco.

Depois disso, você junta tudo em um programa de edição de imagens e monta seu próprio disco.

O meu resultado foi esse:


Até que eu gostei, cactos com flores, uma imagem que eu gosto... O nome da banda seria Communion ("Comunhão"), trata-se, na verdade, do título de um livro sobre ET's (!); por fim, o nome do disco seria "Please read the disclaimer", que significaria "Por favor, leia o disclaimer" (essa palavra não tem uma tradução literal, mas é um tipo de documento onde abrimos mão de direitos sobre algo, como um texto, uma imagem, ou qualquer coisa que tragamos a publico. disclaim=negar). Bem, achei a brincadeira divertida. Talvez eu faça outras vezes...


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ela

Já que o assunto é música pop, eu não posso evitar falar dela, que completa 50 anos de idade e virá ao Brasil no final desse ano: Madonna. Você pode não gostar, você pode até odiar, mas você não pode ignorar sua existência. Até minha mãe conhece a Madonna!
Eu não sou nem nunca fui um grande fã seu, mas tem coisas delas que gosto e ainda escuto. Das coisas mais antigas, eu gosto do disco Like a prayer. Já de sua fase Erotica, no início dos anos 90, eu gosto muito de Rain e Deeper and deeeper, mas acho que fica por aí. Em 1994 lembro que ela colocou um piercing falso no nariz e fez um disco tosco, que foi o Bedtime Stories, que terminava com a chatíssima Take a bow. E o tempo passou. Mas no final da década a musa deu uma virada, e pra melhor, e concebeu seu melhor trabalho, ao menos para mim: Ray of light, baseado numa toada mais tecno, porém refinado e muito bem produzido. Sua voz também melhorou muito. Com o CD Music ela embrenhou-se numa atmosfera country, mas não menos dançante. Depois viria um CD temático, American life, que tentava, a seu modo, criticar por dentro o modo de vida americano. Bobagem, ninguém é mais americano que Madonna... mas o disco traz coisas bacanas como a música Love profusion – talvez só isso, aliás. Depois viria uma ode à disco music com o álbum Confessions on the dance floor, que eu gostei, é realmente divertido, especialmente Jump e Sorry, perfeitas pra uma festa.
Mas aí a loura se empolgou e agora lançou um disco de black-music. Na onda dos produtores famosos desse mercado, ela fez pareceria com Justin Timberlake, em uma faixa até engraçadinha, 4 minutes. Ok, todos aqui sabemos que tudo é ditado pelo mercado, bla bla bla, mas chega a ser ridículo uma artista do nível dela se sujeitar a trabalhar ao lado de um ídolo teen, como o Justin, para se manter em evidência. Fora isso, as músicas são muito parecidas com tudo o que já toca por aí aos quatro cantos nas bocas de cantoras mirins como Britney Spears. Madonna sempre inventou as modas, muitas vezes quebrou a cara com isso, mas era um tipo de vanguarda. Agora não, ela está seguindo a maré, indo pelo caminho mais fácil e garantido: música da moçadinha, um produtor famoso, um ídolo teen de rostinho bonito.
Mas tudo bem, apesar desse tropeço, não serei eu a tirar a coroa da rainha do pop. Afinal, não é pra qualquer uma manter-se na realeza por tanto tempo...


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Nicolas Taunay e Roxette

Há poucos dias, um site australiano que vende músicas em formato digital registrava na 30ª posição da parada de downloads a música Dangerous, do Roxette. Fato curioso, uma vez que a música já tem vinte anos, fez todo o sucesso que tinha que fazer nas paradas mundiais entre os anos de 1988 e 1989. Quem foi adolescente no final dos anos 80 certamente conhece o batido refrão:"Hold on tide, you know she's a little bit dangerous...". Claro que eu gosto muito dessa música, um clássico do pop, mas confesso que não entendo muito bem como essas coisas acontecem... mas elas acontecem. O que faz as pessoas ressuscitarem coisas do passado? Mistério.
O mesmo acontece em uma esfera mais refinada, o mundo sofisticado das artes visuais. Há épocas em que alguns pintores, esquecidos por tempos e tempos, ressurgem no cenário artístico, graças ao empenho de críticos e historiadores, e caem nas graças do público. Isso tem acontecido, por exemplo, com o pintor franês Nicolas Antoine Taunay (1755 - 1830), que esteve no Brasil no início do século XIX e produziu muitas imagens sobre o Brasil, especilamente paisagens. Ele fez parte de um grupo de artistas franceses que esteve no país durante o reinado de D. João VI para fundar a Academia de Belas-Artes. Nesse grupo estava também o artista Debret, de quem já falei nesse blog, que é mais conhecido que Taunay. Mas desde o ano passado, com o início das comemorações referentes à vinda da Família Real para o Brasil, esse pintor passou a receber maior atenção de críticos e estudiosos, ganhando exposições, palestras, publicações, e ficando, com isso, mais conhecido. Na arte às vezes assim, as coisas ressuscitam depois de séculos. Mas como vimos, isso também acontece em esferas menos intelectuais, como na música pop.

Nicolas Taunay, Morro de Santo Antonio em 1816, óleo sobre tela, 45 x 56,5 cm


Assim talvez seja a natureza humana, gostamos de coisas novas, mas sempre nos resta algum saudosismo. Agora mesmo eu estou aqui, ouvindo Dangerous em modo "repeat-on"... e é uma delícia!
E, cá pra nós, onde mais você encontraria um texto articulando, ao mesmo tempo, Taunay e Roxette? Seja bem-vindo(a) ao meu blog.


Clipe de Dangerous:




Dangerous
(Roxette)
Look Sharp!, 1988.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Como diria o seu Sílvio...

... "Isto é incrível" (ou será que era o Lombardi que falava isso?)
Bem, o negócio é que ontem encontrei na internet uma notícia que chamou minha atenção:


O pior é que parece mesmo verdade, eles conseguiram um jeito de fazer um "não-sei-lá-o-quê" com a luz, de modo que ela contorna o objeto e o torna invisível. Não é louco? Bem, primeiro, não entendo muito a necessidade desse tipo de descoberta, mas certamente tem muito a ver com questões bélicas, tipo deixar um tanque de guerra ou avião invisíveis -coisa de desenho animado, né não? Mas a coisa é séria, sabe-se lá o quanto se gastou com essa pesquisa super importante... e com tanta pesquisa séria precisando de financiamento... mas enfim, é isso.
Nem sei bem porque estou escrevendo isso. Deve ser por conta das últimas postagens, que foram muito existencialistas. Melhor baixar a bola e falar sobre assuntos mais prosaicos. Afinal, a vida também é feita deles (é, eu não resisto a um finalzinho existencialista de botequim).


quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Uma quarta-feira com Clarice

Nessa vida de fazer tese, acabo tendo que ler muitas coisas. Mas o problema disso é que, quando tenho momentos de folga, tento fazer outras coisas pra me distrair, como ir ao cinema, ficar na internet ou mesmo ver TV, o que só consigo fazer quando estou comendo algo. Com isso, raramente eu uso meu tempo livre para ler, o que, num ditado meio popular, significaria que, ao descansar, carrego pedra! Mas não é bem assim, tenho tentado mudar essa concepção... e hoje dei um tempo na tese e resolvi ler alguma coisa que não fosse acadêmica (pois é assim, pra quem não é do meio, fique sabendo que uma tese se faz também, via de regra, lendo muitas outras teses que já estão prontas). E escolhi para isso a Clarice, A hora da estrela. Eu nem tenho o livro, li uma versão digital, em formato de e-book. Bom pra quem gosta de ler na tela, mas eu prefiro ainda os livros de papel.
Enfim, permiti-me esse privilégio, de em plena quarta-feira ficar lendo uma obra de literatura. E foi maravilhoso. Sempre gostei da Clarice, com suas palavras agudas, ferozes, sua ironia... Mas nunca tinha lido essa obra.
Na verdade, acabei de terminar. Ainda estou meio tonto, bêbado como a Macabéa, ao sair da casa da cartomante, aquela que previu uma mudança radical em sua vida. Que coisa esse mundo da literatura? Aliás, que coisa o mundo das artes, esse mundo de mentiras que ajuda a gente a entender a maior de todas elas: a vida. E, sendo uma grande mentira, a vida é também uma grande arte.
Que coisa mais doida, né? Não há como passar ileso por uma experiência com a arte, seja ao olhar uma pintura, uma peça de teatro, um filme bacana, ou qualquer outra forma de expressão. Eu, pelo menos, me sinto sempre melhor, e menor, diante de toda a confusão que a vida é. O problema é que às vezes nos levamos muito a sério. E no fim, as coisas não são tão sérias assim. É por isso que eu gosto de cemitérios. Não, eu não sou gótico ou algo parecido, eu não freqüento cemitérios! Mas quando estou em cemitério e vejo aquelas fotos, de pessoas que viveram há tanto tempo, fico imaginando suas vidas, seus sonhos e projetos, suas preocupações... e que agora são apenas fotos naquelas molduras. No fim é isso. Talvez não devamos levar tudo a ferro e fogo, ficarmos nos cobrando o tempo todo, nos culpando pelo que fizemos ou deixamos de fazer, procurando a perfeição, nossa e dos outros, enfim, levando tudo muito a sério.
No fim, às vezes, o que aparece é uma Mercedes amarela. Então, enquanto isso não acontece, o negócio é aproveitar a vida, mesmo que ela seja, como diz Clarice, um soco no estômago.

"Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago" (Clarice Lispector, A hora da estrela).


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Metamorfose

Acordei de manhã e lá estava: uma coisa estranha em meio lábio inferior, que eu apenas sentia ao passar a língua. “Devo estar sonhando ainda” – pensei. Ainda sonolento (fazia umas quatro horas que tinha me deitado) fui me olhar no espelho e o susto foi inevitável: minha boca estava parecendo com a da Angelina Jolie, só que bem maior. Meu lábio estava gigante, inchado, como seu eu tivesse levado um soco, ou sido picado por uma abelha. Mas não doía, não coçava, não ardia... Apenas estava enorme, inchado. Naquele momento surreal me senti como o Gregor, de Kafka, que acorda e percebe-se vivendo no corpo de um inseto. Aquilo que eu via não era eu, eu não tinha sido picado por nada, eu não tinha levado um soco, eu não tinha comido nada de diferente na noite anterior. Simplesmente aconteceu. Foi inevitável a ida ao hospital. E no caminho todas as fantasias possíveis me rondavam (alergia? ou algo mais grave? que será? nunca tive isso antes..., é, deve ser só uma alergia? e se não for? e se... e se???). Hospital. A moça: “O que você tem?... sei, sei... bem, primeiro corredor à esquerda, depois à direita, depois à esquerda, na segunda porta.” Espera. Espera. Espera. Pessoas com cara de dor, e num canal mal sintonizado da TV um desenho-animado sem graça. E gente com cara de dor. E uma senhora aos gritos, seu cãozinho havia morrido. “Calmante pra ela, sala dois à direita”. E gente passando. E nada de portas ou janelas. Eu fingia calma, apesar de não gostar de locais onde não há janelas. Assistia ao desenho que não era nada animado, mas ria. “Sr. XXX” – era eu. A médica, toda séria: “O que aconteceu?”. “Não sei, acordei assim”. ... ... ... Perguntas, perguntas, perguntas... luvas de látex, dedo na boca... “Alergia”. “Do quê?”. “Não dá pra saber, pode ser de qualquer coisa”. Antialérgico por cinco dias. Que soninho bom... Mas no mesmo dia minha boca já estava normal. O mundo pode ser mesmo um lugar perigoso.