domingo, 19 de abril de 2009

Entre les murs

Podem ser várias as razões para se achar um filme bom: ele pode nos divertir, promover a reflexão, se aproximar da “realidade”, se afastar dela, nos fazer rir, chorar… enfim, isso pode variar muito. Isso permite que eu tenha entre meus filmes favoritos Tudo sobre minha mãe, As Horas e Procurando Nemo, por exemplo. E por isso digo, sem medo, que o filme Entre os muros da escola (Entre les murs, França, 2008) é um filmaço. Filmaço porque ele prende minha atenção do começo ao fim, me tensiona dos pés à cabeça, faz meu cérebro ferver – tudo isso sem ser, necessariamente, um sofrimento. Com cara de documentário, o filme é uma ficção das mais realistas que poderia haver. Um amigo muito querido me disse que o filme é legal enquanto um documentário, que o faria discutir a realidade, mas não enquanto um filme em si. Mas que realidade? Esse tipo de raciocínio nos levaria para uma discussão particular sobre a idéia de realidade no cinema, e nos documentários em especial. O que, afinal, é o “real”? E que “real” estaria presente em um filme com proposições documentais? Nesse caso, é fundamental questionar a idéia de documentário como uma construção e tal… ou seja, pano pra manga que não acabaria. Mas Entre les murs não é assim: trata-se uma ficção declarada, com atores (ainda que os alunos fossem todos alunos reais da tal escola), e um roteiro definido, baseado em uma obra literária, inclusive. Nesse caso, nada mais assumidamente ficcional. Mas é aqui que está o barato: na ficção, as personagens, talvez, falem muito mais verdades! Na condição de estarem protegidos por uma atmosfera de interpretação, os atores permitem-se determinadas liberdades que o constrangimento de uma câmera declaradamente documental poderia impor. É por isso que o realismo do filme assusta. Assusta professores, alunos, e qualquer um que tenha o mínimo envolvimento com a questão da educação. Nesse sentido o filme é brilhante. Fora tudo isso, ele coloca em cheque todos os pressupostos e arrogâncias da tal “civilisation française” – hoje, composta por um enorme agrupamento de imigrantes que cercam a cidade de Paris. O buraco é bem mais embaixo, e um espinho na garganta dos franceses tradicionais. Enfim, o filme merece ser visto, mesmo. Não é um filme agradável. Não é tampouco uma comédia – embora você possa rir em muitos momentos – mas talvez também chorar. Sabe-se lá. De qualquer maneira, é um filme bem feito.

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4 comentários:

Alexandre disse...

Eu acho que vi algum comentário no jornal esses dias. É esse que o professor tem um caso com uma aluna?

Eu e a Cris estamos programando um cine pra essa semana, quem sabe não rola esse.

ART disse...

não, não, o professor não caso com ninguém, não! o assunto é exclusivamente a relação entre alunos-professor-escola...

Zrs disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zrs disse...

Boa dica, esqueci de dizer que além das Horas, os outros tb são ótimo, de diferentes maneiras.

Tenho visto filmes para relaxar, tenho uma lista grande para postar, qdo puder faço.

beijos lindo.
ps: correria por aqui...