2024 foi um ano tão estranho em tantos sentidos que nem percebi que ele está quase no final.
Novembro e dezembro são meses especiais, é meu aniversário de casamento, é aniversário do meu marido, termina o semestre letivo, chega o recesso, as festas... enfim, muita coisa legal, que me faz prestar atenção que 2024, esse ano esquisito, está acabando.
Escrevi um bocado por aqui sobre o quão estranho ele foi. O segundo semestre, porém, já foi mais leve e senti mudanças positivas, fruto de muito auto-cuidado. Demorou 46 anos mas percebi, de verdade, a importância e o sentido desse cuidado de si. Ninguém pode fazer isso pela gente. Colocar-se em primeiro lugar não é sinônimo de ser egoísta, mas justamente o contrário: só inteiros podemos pensar e agir em relação ao outro.
Sigo nessa toada, tentando sempre prestar atenção em mim, nas minhas necessidades e nos meus desejos. E nos meus limites.
Quando eu era criança, eu gostava de fazer arte. Brincava muito, na maior parte do tempo sozinho (por falta de opção, pois não morava perto de outras crianças em boa parte da infância, e sou muito temporão). Mas minha imaginação era boa e eu me dava bem nisso. Morava no sítio, outro elemento importante sobre minha solidão infantil. Enfim, das coisas que eu gostava de brincar, desenhar era uma delas. Muito, mesmo. Tinha algum talento, parece, pois todo mundo elogiava. Diziam que eu ia ser artista. Adorava essa ideia, mas não acreditava muito nisso. Não me tornei artista, mas tenho redescoberto o desenho como uma forma de expressão importante. Comprei um bocado de materiais e volta e meia me pego brincando de desenhar, novamente.
Outra coisa que sempre gostei foi de música. Sempre. Meu sonho era que em casa a gente tivesse uma vitrola, mas isso nunca aconteceu. Só quando eu já era adolescente. Então eu mais cantava do que outra coisa. Não tenho voz de cantor, mas acho que sou até afinadinho para performances de box de banheiro. No entanto, o que eu mais queria na época era aprender a tocar violão. Minha irmã, quando eu tinha uns 8 anos, comprou um Giannini, para fazer um curso na paróquia da cidade. Eu achei aquilo incrível! Talvez outra hora eu conte sobre como ela comprou o violão e como eu participei de todo o processo. O fato é que ela começou o curso e eu fui me envolvendo com esse mundo. Não aprendi acordes na época, mas alguns dedilhados nas primeiras cordas, como "Parabéns pra você"e outras. Adorava. Mas isso passou e, aos 16 anos, quando eu estava muito viciado em escutar música pop-rock, tentei novamente aprender, comprei um manual de banca de jornal, mas não deu certo. Achei muito difícil. Mas a vontade nunca passou. Só adormeceu. Pois bem, esse ano, além de voltar a desenhar, resolvi que vou aprender a tocar violão. Comprei um pela internet, um bem simples, para ver se consigo aprender algo. E está dando certo! Faz dois meses e dois acordes, mas já me sinto muito feliz. Acho que dessa vez conseguirei aprender o básico para tocar algumas musiquinhas e me distrair nas tardes de verão.
Tenho recuperado a vontade de aprender coisas. Tem tanto que posso fazer! Voltar a dirigir, que aprendi tardiamente e nunca mais voltei a praticar. Aprendi a nadar faz dois anos e me faz muito bem. Cozinhar, que além de uma necessidade, é algo que gosto. Tenho feito coisas novas na cozinha e isso também me anima. Penso em aprender Espanhol e Italiano. E começarei a fazer musculação, por conta da saúde e da idade. Os 46 anos caíram como uma bomba em mim, pois me indicaram que tenho que me cuidar muito melhor. Estou atento a isso e fazendo escolhas. A análise, como já falei aqui, foi uma delas. Tem sido muito bom.
Enfim, que venham os próximos anos e as próximas aprendizagens.
Fiz terapia por 8 anos. Foi fundamental. Consegui trabalhar questões que eram muito difíceis. Mas todas elas ligadas ao modo como eu lidava com o ambiente ao meu redor, ao meu comportamento e ao comportamento das outras pessoas. Isso não é pouco, é essencial que analisemos nosso comportamento e como ele afeta, positivamente ou não, a nossa vida.
Chegou um dia em que minha terapeuta falou que estava chegando a hora de a gente finalizar aquele processo... que vamos combinar, já tinha sido bem longo. Mas eu ficaria ali, facilmente, por mais tempo. Mas o profissionalismo e a ética de minha terapeuta falaram mais alto, e ela me "deu alta". Mas uma "alta" relativa: me sugeriu trabalhar com outra abordagem, psicanalítica. Foi então que comecei a pensar seriamente nesse assunto, que já fazia parte dos meus planos.
Depois e um ano, em meio a uma crise, ligada a questões de saúde, busquei um analista.
Já passou de quatro meses e vejo o quanto é importante esse processo analítico. Enfrentar os próprios fantasmas, olhar no espelho. Não existe coisa mais difícil.
É sábado de manhã. São 8:35h. Acordei cedo pois hoje é dia de analise. Isso é que é compromisso. Fico até orgulhoso de mim mesmo. Está uma manhã muito fria, 12° C. Enquanto o motorista dirige, ouvimos a rádio Antena 1. É minha favorita. Escrevo para passar meu tempo.
Recentemente tenho tido alguns problemas de saúde recorrentes, ora gripe, ora alergia, ora problemas gástricos, mas o mais recente foram picos de pressão alta. Já os tive antes, mas se normalizaram em tempo suficiente para que houvesse alguma preocupação maior. Mas dessa vez eles foram mais recorrentes e mais altos e, embora ainda esteja investigando seriamente se sou hipertenso ou apenas estressado, precisei tomar uma medicação para que as coisas ficassem mais normais. Evitei o quanto pude, mas sempre defendi que os remédios existem para nos ajudar, então ao fim, aceitei os fatos e, sinceramente, já me sinto melhor.
Mas, ao lado disso, retomei a terapia, depois de alguns meses de haver terminado um processo anterior, que foi muito bom para mim. Agora, porém, dou os primeiros passos em uma terapia psicanalítica, da qual estou me aproximando e achando bem interessante. Mas ainda tenho muito a vivenciar disso. Estou muito interessado e feliz por ter começado a trilhar esse caminho.
Eu não sei se, ao fim da investigação com o cardiologista, descobrirei que sou mesmo hipertenso e terei, com isso, que tomar remédios para o resto da vida. Não veria problema nisso. Mas, no fundo, o que mais me toca foi a necessidade de parar para pensar em mim mesmo, de forma seria, profunda e respeitosa. Estou feliz por essa demonstração de afeto por mim mesmo.
Postagem de ano novo. Não me lembro se fiz uma no ano passado. Depois confiro.
De todo modo, este ano merece um post conclusivo.
É dia 31 de dezembro de 2023. Não foi um ano fácil em muitos aspectos. Mas foi um ano bom em muitos outros.
Foi bom porque o Brasil teve finalmente um respiro de esperança depois de alguns anos de sofrimento (pandemia, desgoverno etc.). Voltou-se a ter esperança, mesmo dentro de tanto motivo para falta de otimismo.
Para mim, foi cansativo em termos de trabalho. Desgastante. Resolvi realizar minha livre docência este ano, por diversos motivos concluí que era o momento. Por conta disso, tive que agilizar muitas coisas no primeiro semestre, para poder, entre julho e setembro, fazer o que precisava ser feito para concorrer à vaga. Já falei disso por aqui, então não vou entrar em detalhes... Mas foi um processo bem cansativo e dolorido - tive uma sinusite que custou a melhorar, e mesmo hoje, quase quarenta dias depois, ela ainda me faz lembrar que esteve por aqui. Minha garganta segue irritada. Talvez vontade de gritar algo preso, sei lá, tipo: adeus 2023! No concurso correu tudo bem, fui aprovado com nota máxima por toda a banca e me senti muito feliz. Sou professor Livre Docente e em breve terei o cargo de Professor Associado. Que alegria para um "jovem" docente. Sim, aos 45 anos de idade me considero jovem, nessa carreira em que trabalhamos até muito longe... Tenho 7 anos de casa no meu traabalho e considero um feito ter conseguido ser livre docente nesse intervalo de tempo. Mas o corpo respondeu com essa sinusite longa. E claro, muitos outros trabalhos ficaram de quarentena, esperando para serem retomaodos, o que faz de 2024 um ano pleno de expectativas (leia-se: hora de produzir artigos!).
Há também planos de uma linda viagem em fevereiro, nas minhas efetivas férias. Mas isso será assunto para depois.
Hoje, quero apenas encerrar as atividades no blog este ano.
Quase deixo passar, mas faz 4 anos que o mundo perdeu Marie Fredriksson, mais conhecida mundialmente como "Roxette", nome da dupla sueca da qual faz parte, junto com Per Gessle, desde 1986. Comcei a ouvir o Roxette em 1992, por conta da atenção que me despertou a música "Spending My Time", então parte da trilha sonora da novela "Perigosas Peruas". Na época eu começava a me tornar um maníaco por música pop, e ouvir essa balada me fez buscar tudo o que pudesse encontrar sobre eles. E me tornei um fã fiel, tão fiel que até hoje coleciono tudo o que consigo encontrar. Mas certamente foi a voz de Marie que me encantou no começo, e até hoje me encanta. Dona de uma biografia marcada por pobreza e sofrimento, Marie alcançou o sucesso em sua terra natal, a Suécia, em 1984, com o LP "Het Vind", especialmente com a música "Ännu doftar kärlek". Em 1986, uniu forças com Per Gessle e formou o Roxette, mas o sucesso mundial veio apenas em 1989, com o hit "The Look". O resto é história. Google it. Em 2002 Marie descobriu um tumor cerebral, do qual se livrou com um tratamento severo, mas cujas sequelas a levou à morte em 2019, no dia 09 de dezembro. O mundo só veio a saber disso no dia seguinte. Eu estava em Paris, para uma viagem de trabalho. Para mim, não foi nada diferente da notícia da perda de um ente querido. Marie era para mim mais do que um parente. Ela simbolizava tantas coisas, que nem saberia escrever aqui. Sofri muito. Foi o mesmo ano em que perdi minha mãe. Por isso, 2019 foi especialmente triste para mim. Pensei que jamais conseguiria ouvir Marie ou o Roxette novamente, mas a verdade é que preciso de sua voz, da energia que emerge de suas canções. Não acredito que haja vida espirtual após à morte, do modo como algumas religiões ensinam. Sou um cientista. Mas eu acredito na sobrevivência de imagens e sons, por meio daquilo que os viventes realizam. No caso de Marie, sua voz sobrevive no caos do mundo, e ainda enche minha vida de cores e luzes vibrantes. Se há algo mais próximo da eternidade, duvido.
Já devo ter escrito algumas vezes aqui sobre o tempo. Ah, o tempo!
Hoje vi uma publicação de que a música "The centre of my heart", do Roxette, foi lançada há 22 anos. Duas décadas e dois anos! Lembro direitinho da primeira vez que ouvi a música, um trecho, na verdade, que foi postado no site oficial da banda. Depois baixei, em algum aplicativo, e usei uns 4 disquetes para poder levar a música de um computador para outro. Realmente, era uma outra era, e o começo dessa, pois o álbum em questão teve poucas vendas, já que um aplicativo chamado Napster revolucionava a pirataria. Tudo mudou de lá pra cá. Mas a verdade é que não parece que faz tanto tempo. Parece que foi ontem. Mas, olhando em perspectiva, tanta coisa aconteceu nesses 22 anos que eu nem sei por onde começaria rememorar esse tempo. Envelhecer tem dessas coisas. Tudo começa a fazer aniversário de 20, 30, 40 anos... Estou com 44, vou fazer 45 em breve, e ainda me sinto algumas partes de mim com todas as idades que tive. É um processo muito louco. Mas é legal. Pois ao mesmo tempo em que não me sinto com 45 anos (aliás, o que seria sentir-se numa dada idade?), eu não me sinto com menos do que isso. O corpo dá sinais da passagem do tempo, minhas opiniões e concepções sobre o mundo também. Mas algumas coisas ficam. Continuo fã do Roxette, continuo casado com a mesma pessoa há 24 anos, adoro arroz com feijão e ovo frito. Parte muda, parte fica, mas talvez a única certeza é que não existe uma concepção única sobre o tempo, sobre o modo como o vivemos e o percebemos. A memória é algo vivo e não estático. Ela é recriada ao longo do tempo, e mesmo o passado nunca está lá, pronto para ser visto e reconhecido como "de fato foi" (sim, isso é Walter Benjamin). Que rica é a nossa existência. Enfim, o baile segue. Sigamos dançando, ao som de um bom e e velho pop!
Tenho 44 anos de idade e estou aprendendo a nadar. Esse é o post. Sempre gostei de praia, rios, cachoeira, piscina... Mas o máximo da diversão era nadar submerso enquanto houvesse fôlego. Sempre tive vontade de nadar corretamente, no estilo "crowl", mas sempre foi uma grande dificuldade para mim. Há alguns meses comecei a ter aulas de natação e foi bem difícil pegar o jeito. Agora começo a sentir algum progresso (leia-se: cruzar a piscina de 25 metros sem engolir água ou colocar os pés no chão). Parece bobagem, mas tem sido um processo bem árduo. Pensei em desistir em alguns momentos, mas a cada progresso, uma nova motivação. E assim, sigo aprendendo. Na semana passada completei, pela primeira vez, 1000 metros na aula. Longe dos 3200 do colega da raia ao lado, mas bem mais do que eu conseguia fazer há um mês. Agora, embora seja cansativo, nadar tem se tornado uma atividade que me deixa feliz. Com dizia Guimarães Rosa: "Perto de muita água, tudo é mais feliz". E como dizia a peixinha Dori, de Procurando Nemo, "Continue a nadar...".
Quando eu estava na graduação, um estudante trabalhador que cursava Ciências Sociais no período noturno, resolvi fazer uma pesquisa que resultasse numa monografia ao final do curso. Para tanto, procurei um professor que fosse meu orientador. Depois de buscar aqui e ali, meu professor de História do primeiro ano aceitou a tarefa, e me introduziu no mundo da pesquisa em Sociologia da Arte, onde, de alguma forma, estou até hoje. Mas eu tinha certo receio de não conseguir fazer a pesquisa, ele de saída percebeu que eu era um tanto ansioso e me disse, em umas das primeiras reuniões: "vou te dar um conselho: não se leve tão a sério". Isso me deu a tranquilidade que eu precisava para fazer a pesquisa e defender a monografia no final de 2001. E segui com esse mantra vida acadêmica afora. Mas não foram poucas as vezes que me esqueci desse lema e, até hoje, me vejo afobado e ansioso com tarefas as quais parecem que não conseguirei realizar ou que, mesmo realizadas, não ficaram do modo como eu gostaria. Então, lendo alguns posts que aqui mesmo escrevi sobre isso, e com a imagem do meu querido professor de História em mente, lembro que sou um ser humano, com tempo de existência limitado e que amar o trabalho não significa ser dominado por ele.
Acho que estou numa fase meio sensível da vida. Serão os 44? Será o pós-pandemia? Sei lá. Sei que hoje o Facebook me enviou uma foto de lembrança de algo que aconteceu 8 anos atrás. Uma foto de meu gatito Pedro. Eu fiquei tão triste ao ver a foto. Pedro morreu em 2016, dois anos depois. Sinto uma saudade tão grande dele. Fico pensando se vale a pena ter pets. Eles duram tão pouco. E têm uma presença tão intensa em nossa vida. Depois fica essa saudade. Realmente não sei. Hoje tenho ainda minha doce Capitu, 16 anos, guerreira, luta há 6 anos com doença renal. Depois que Capitu se for, não temos planos de mais pets. Não sei se isso vai mesmo ser dessa forma. Mas talvez ela seja a última. Espero que fique muito tempo com a gente ainda.
Estou ouvindo aqui a nova música de PG Roxette, espécie de continuidade do Roxette, que terminou em 2019 com a morte de Marie Fredriksson. A música é boa, alegre, radiante, com a mesma vibração dos anos 80 e 90. A música, Walking on air, é o segundo single do álbum que sai em outubro, Pop-up Dynamo! No geral a música e o projeto estão sendo bem recebidos pelos fãs, embora uma parte insista em dizer que não existe Roxette sem Marie. Bem, não mesmo, por isso agora é PG Roxette. Dialeticamente, é e não é Roxette. Particularmente, admiro a coragem de Per Gessle, tomando o legado que construiu ao lado de Marie e tocando o baile, literalmente. A vida continua. Falamos isso muitas vezes, mas nem sempre conseguimos colocar em prática. Agora há pouco me lembrei de uma amiga querida que morreu no começo de 2020, após uma curta batalha de 6 meses contra uma doença bem séria. Eu não a via há muito tempo, e soube de sua morte depois do ocorrido, pois notei que ela não postava mais fotos no Instagram, que era por onde a gente se comunicava. Não tínhamos amigos em comum, pois os poucos conhecidos em comum não faziam mais parte da vida dela. Por isso não soube nada na época. Fiquei arrasado. Lendo os últimos posts dela, sempre nos dizia para aproveitar cada dia, viver com intensidade e abandonar o que nos faz sofrer. E cultivar o que nos deixa feliz. De alguma forma, mas longe do ideal, tenho tentado isso, evitar gastar energia demais com coisas que não me fazem bem. Pois a vida é um sopro e nunca sabemos o tempo que temos. Por isso, cá estou, ouvindo as músicas novas do PG Roxette. Lembrando de como era feliz quando o Roxette lançava algo novo, ficando um pouco triste porque nunca mais ouvirei uma música nova com a voz da Marie. Também não comerei mais a comida da minha mãe, e nem sentirei meu gato, Pedro, me cutucar quando estou trabalhando no computador. Tudo isso agora é apenas parte de lugares muito doces da minha memória. São parte de mim. E há coisas por aqui, lindas, como as músicas novas de PG Roxette, meu marido, que está ali na mesa dele trabalhando, ao lado de minha gatinha Capitu, que está em nossa vida há 16 anos, e espero que ainda fique muitos! E domingo terá eleição para presidente, e estou com um grito preso na garganta. Espero que seja uma dia de libertação. Esse post foi um tanto estranho, como que uma síntese de várias emoções juntas. Mas o principal é: a vida é um privilégio. Vamos aproveitá-la. E amar, muito, sempre, excessivamente.
Em 2002 me mudei para São Paulo para tentar ingressar no mestrado. Foi uma mudança e tanto, considerando que eu morava a vida toda no interior (Marília-SP), com algumas visitas à metrópole desde o ano 2000 ou 2001 - não lembro direito. Sempre tive certa fixação por essa cidade, morria de vontade de visitar. Pois cá estava eu, morando com meu então namorado, para essa virada radical na existência. Ele entrou no mestrado em 2002 e eu, por sorte, empenho ou esperança, acabei ingressando em 2003. Terminei o mestrado em 2006 e já estava morando novamente na cidade do interior de origem (pulei, obviamente, todo a constelação de acontecimentos nesse ínterim). O mestrado havia sido exaustivo e eu começava a me reaproximar do meu antigo trabalho, e por uns meses cheguei a pensar que deveria direcionar todo meu investimento profissional para ele. Mas acabei confirmando que minha paixão era a Sociologia e as Imagens, então em 2007 estava eu no doutorado, novamente em São Paulo, para dar prosseguimento a esse plano audacioso. Em resumo (muito disso pode ser lido neste blog), terminei o pós-doutorado em São Paulo em 2014 e meu mudei para Campinas, pois havia a possibilidade de outro pós-doc por lá e meu companheiro, agora marido (de papel passado, sim, porque desse tipo de direito a gente não pode abrir mão), havia conseguido uma vaga efetiva como docente. Dois anos depois, entre inúmeros eventos e sentimentos que não cabe falar agora, tornei-me docente na Unicamp, e esse foi o ápice de quase 20 anos de estudo, formação e luta. Hoje sou Professor Doutor II e sinto-me feliz profissionalmente. Mas, a vida tem dessas coisas, por diversos motivos, profissionais e pessoais, alugamos um pequeno apartamento em São Paulo e cá passamos alguns dias durante a semana. E novamente São Paulo faz parte da minha vida. Revisito locais do passado, alguns exatamente iguais, outros totalmente diferentes. Tenho memórias e sensações diversas. Um misto de reconhecimento, identidade e estranhamento. Gosto daqui. Sinto-me parte daqui. Mas também sinto-me de fora, forasteiro, estrangeiro (Simmel rules!). Mas quem não? São Paulo é uma cidade majestosa, desafiadora, divertida. Para mim, voltar para cá, ainda de forma intermitente, depois de tantos anos, mostra o quanto estamos conectados. Tanto se passou desde 2002, mudamos tanto, ambos. Mas ainda somos os mesmos. Guardamos sonhos no almoxarifado da alma. Ainda há muito a se fazer. Existe amor em SP.
Lembrei que este blog completou 15 anos no dia 27 de fevereiro de 2022. Eu nem acredito que ele ainda existe e (de certa forma) em atividade.
Resolvi, assim, dar uma olha no post nº 01, que se chamou "Step one... loading...". Que loucura perceber a passagem do tempo!
No post eu falo sobre a discussão entre o real e o virtual. Mas o mais legal é ver as palavras que aparecem lá e que não fazem mais sentido para um bocado de gente
Blog
Orkut
Scraps
Google Earth
Internet rápida
Esses assuntos acima eram novidade. O Orkut foi a primeira das redes sociais que a maior parte das pessoas usou na vida. Os scraps eram o lugar dos recadinhos dos contatos. Google Earth ainda deve existir hoje, mas na época era preciso baixar o programa. O Google Maps não era o que é hoje. Internet rápida, veja bem, a minha era 200 Kbps, eu estava bem feliz - antes era via "modem" e não passava muito de 33 Kbps. Enfim, agradeço por ter feito o blog e mantido ele por todo esse tempo. É muito legal ter essas histórias registradas.
Acabei de terminar de passar as notas de minhas turmas de graduação do primeiro semestre. Essa frase, sozinha, carrega mais significados do que pode parecer. Nela eu digo "notas", "semestre" e "minhas turmas". Se eu volto no tempo e lembro de minhas inquietações e angústias sobre o futuro, planos, ideais, uma frase como essa era um sonho, algo desejado e supostamente tão intangível. Eu lembro de sonhar, de fato, sendo professor, dando aulas, passando em algum concurso, comemorando isso... e foi tanta luta para conseguir isso. Mas consegui, e parte disso apareceu registrado nesse blog, mas grande parte, não. Muitos momentos tristes, frustrantes, desanimadores, entre os anos de 2011 e 2016, meio que ficaram apenas na minha memória, e talvez apareçam aqui "ever now and then". Viver o sonho, por sua vez, é algo que só vivendo se sabe o que é. Então após a alegria do sonho realizado começam a aparecer os problemas que todo trabalho traz junto: cansaço, frustrações, angústias, raiva, desânimo, decepção, tristeza etc. Tem horas que esses sentimentos tomam quase todo o lugar do essencial, que é maior e mais importante: a alegria e a satisfação de estar fazendo o que sonhou, num lugar legal, em condições muito boas. Não são as condições do passado, e muito menos as ideais. Mas ainda assim, é o emprego dos sonhos, "aquele pelo qual milhares de garotas matariam" (sim, o filme O Diabo Veste Prada é um guilty pleasure que assumo). Então, em dias como hoje, final de semestre, passando a notas, lembro de imaginar que legal seria poder fazer isso um dia. Passar as notas dos "meus" estudantes. Sempre quis ser professor. Terminei o doutorado em 2011 e foram 5 anos até dar certo. Cinco anos difíceis. Mas todos valeram a pena. E hoje estou aqui, terminei de passar as notas, estou ouvindo um dos meus vinis favoritos na vitrola, enquanto tomo uma taça de vinho tinto. Nada mal.
Hoje numa discussão de um grupo de pesquisa que participo, falamos nos apelidos da infância, aqueles pelos quais éramos chamados nos primeiros anos de nossa existência. Hoje meu apelido é Dê, uma abreviação criativa de Anderson, feita pela minha irmã e que "pegou". Eu gostei, pois meu apelido anterior era o constrangedor "Nenê". Quando comecei ir para a escola, morria de medo de alguém descobrir esse infame vocativo, comum àqueles que são a "raspa do tacho", como de dizia sobre os caçulas, sobretudo temporãos, como foi o meu caso. Mas isso não quer dizer que gostasse do meu verdadeiro nome - como ninguém em casa me chamava por ele, e até hoje não o fazem, sempre achei estranho ser chamado assim, e mesmo dizer meu nome em voz alta era algo esquisito. Demorei para me acostumar. Nenê era bem estranho, mas eu me identificava com ele. O mais engraçado é que eu era novinho e tinha sobrinhos de idade próxima, e alguns deles me chamavam de "Tio Nenê". Hoje, olhando em retrospecto, acho bem bonitinho. Essa coisa de ser tio desde os dois anos de idade imprimiu em mim certa responsabilidade, da qual nunca me distanciei, o que, de certa forma, foi bom, imprimiu o que considero alguns traços interessantes de caráter, embora tenha me privado, em muitos momentos, de ser a criança da idade que eu tinha, para cuidar dos sobrinhos... mas nada muito grave. Aos 10 anos praticamente ninguém em casa me chamava mais de Nenê, e Dê foi se tornando meu nome, e até hoje os amigos assim me chamam. Alguns parentes, com os quais tenho menos contato, ainda me chamam de Nenê, e acho estranho. Gosto do apelido monossilábico que tenho há mais de 30 anos. Quanto a Nenê, hoje me voltou numa lembrança despertada no grupo de pesquisa, e foi uma lembrança cheia de ternura. A idade tem lá suas vantagens, e aos 43 me reconcilio com essa parte de minha identidade. Mas, por favor, me chame de Dê.
Trilha sonora agorinha: Go to sleep (Roxette, 1994).
Mente sã, corpo são. Sempre achei essa frase interessante, mas não sei bem se a relação causal é adequada. Hoje estava lendo um texto* que falava sobre como nossos corpos não são meros resultados dos processos sociais, mas também constroem e transformam a sociedade. O fato de darmos sentidos ao ser biológico que somos não faz com que deixemos de ser orgânicos. E, dentro disso, oscilamos entre saúde e doença o tempo todo de nossa existência. Portanto, cuidar do corpo é importante; a mente também é corpo, afinal de contas, e essa separação, quanto muito, é teórica. Mas o fato é que nunca gostei de praticar exercícios físicos. Nunca. O que não significa que não tenha praticado esportes na infância ou adolescência, mas sim que nunca gostei de academias, nem mesmo de correr por aí. Caminhar é o que me diverte e isso sempre fiz, mas sem regularidade. Daí veio a pandemia e, com ela, vários quilos a mais. Eu já vinha apresentando um histórico de desequilíbrio metabólico, se posso chamar assim meu colesterol ter subido a níveis preocupantes, a ponto de um cardiologista me receitar remédio alopático. Pensei seriamente em fazer uso disso, tendo em vista um histórico familiar preocupante. Mas o meu médico de sempre, aquele que me acompanha, me disse para não fazer isso e, ao invés, levar a sério uma reeducação alimentar, praticar exercício físico e passar a tomar um remédio fitoterápico (ele é adepto da medicina não ocidental). Nunca na vida consegui fazer qualquer dieta, por isso fomos a uma nutricionista, que nos mostrou um caminho bem tranquilo para isso, sem cortes radicais, mas com atenção à moderação e inclusão de fibras na alimentação: leia-se: frutas, legumes, verduras, grãos e lácteos. Sem tirar o sagrado arroz com feijão que amo e é a base da minha alimentação. Essa dieta suave, mas caminhadas regulares (em uma esteira ergométrica, pois não gosto de sair caminhar durante a pandemia), fez com que, em quatro meses, perdesse 8 quilos na balança e quase 100 pontos nos níveis de colesterol, além do reequilibro em vários outros índices. Nesse dieta, uma das maiores recomendações da nutricionista era diminuir ao máximo o vinho. Realmente, isso não aconteceu, talvez um pouco, mas nem perto do que ela gostaria (meia garrafa por semana!). No fim, penso que a alegria proporcionada pelo vinho, que tanto amo, foi um ingrediente importante para a saúde do espírito, da mente, e, consequentemente, do meu corpo. De modo que percebi que é possível, mesmo após os 40, se reeducar. Foi realmente um processo transformador. E, sim, estou muito feliz de poder vestir novamente algumas camisas que estavam no guarda-roupas há anos.
Olivia Newton-John - Physical (1981)
* CONNEL, Rayween, PEARCE, Rebecca. "Corporificação social e arena reprodutiva". In: Gênero: uma perspectiva global. São Paulo, nVersos, 2015.
Muitas vezes me pego ansioso ou angustiado por conta de tarefas a realizar. Às vezes, acordo de manhã e, entre o do despertador, quando que penso em dormir mais 10 minutos, e o susto relacionado ao trabalho por realizar, dou aquele pulo. É algo muito curioso isso, o modo como tentamos a todo tempo enlouquecer (eu sei que existe um conceito psicanalítico para isso, mas nem vou me arriscar aqui). Quando penso em minha agenda, fico com medo de não dar conta das tarefas, mas olhando para o passado, em perspectiva, sempre foi assim, desde a faculdade, pelo menos. E tudo sempre foi realizado, de um jeito ou de outro. Tem horas que penso que a agonia é o tempero que dou ao meu trabalho, de modo a dar mais emoção às coisas, sei lá... claro que falo disso na minha terapia. Tive uma criação na qual o trabalho era imensamente valorizado, e carrego isso comigo. Estar aqui, por exemplo, escrevendo um post, me faz oscilar entre o prazer da escrita e a culpa por não estar fazendo algo mais produtivo ou relacionado às minhas obrigações. Mas lembro do tempo do meu doutorado, em que esse blog bombava, e sempre foi um modo de organizar as ideias e treinar a escrita, algo que, de todo forma, ainda compõe a maior parte dos meus afazeres. Escrever é uma terapia em si, e sempre foi uma ferramenta poderosa na minha constituição. Por isso, talvez, esse blog ainda exista.
Hoje foi um dia te intenso trabalho. Amanhã também será. Agenda cheia. Cansa bastante. Tem horas que eu me pego pensando sobre o sentido de tanto esforço. Tem segundas-feiras que acordo como que enfrentando a semana que mal começou como um desafio. Mas que fique claro: trabalho em algo que gosto, que me realiza, que sempre busquei como profissão. Como reclamar? É um dilema que vivo, afinal, como reclamar de algo que sempre sonhou fazer? Mas não é isso. Não é reclamar. É refletir sobre as escolhas, os caminhos, as verdadeiras opções dentro de um emaranhado de caminhos entrecruzados. Sou docente no ensino superior público estadual, um sonho realizado em 2016; coordeno um curso de graduação; tenho um monte de orientandos, mas penso em não ter novos por um tempo, dada a responsabilidade que essa tarefa traz e o tempo que ela demanda de atenção; realizo uma pesquisa individual para a qual sou financiado e tenho uma bolsista que me ajuda; fora isso, estou em outros dois projetos de pesquisa como professor associado. Adoro fazer pesquisa, adoro lecionar (sim, estou dando um bocado de aulas, também), adoro orientar pesquisas. Gosto muito de participar da gestão da universidade - comecei minha carreira na área administrativa e tenho certa desenvoltura nisso. Então, na verdade, o que me faz sofrer não é o trabalho, que gosto e com o qual me identifico, mas sim a possibilidade de, diante de tantas tarefas, não fazer um bom trabalho (dentro dos meus critérios). No fundo, é cobrança, a boa e velha cobrança, que tanto nos atormenta. Claro que esse é um assunto corriqueiro em minhas sessões de terapia - aliás, como alguém não faz terapia em uma época como a nossa? Enfim, hoje foi um dia daqueles, mas quando ele acaba, como agora, sinto a alegria de ter feito o melhor, em tarefas que me aprazem. Dentro disso, sei que sou um privilegiado. Não por ter um emprego considerado "bom", mas por me encontrar nele. Pois muita gente sofre, mesmo em empregos considerados "bons". O fato é que a vida é complicada, e ela tem estado bem mais assim ultimamente. Estamos em 2021, e se você não sentiu nenhum tipo de inquietação, seja com sua vida, seja com a vida ao seu redor, então seu problema é bem maior que o meu, que se resolveu (ao menos hoje) apenas escrevendo isso aqui!