domingo, 19 de julho de 2009

Voyage pittoresque et sociologique au Rio: #8. Digressões

Indo para a terceira semana no Rio. O tempo passa rápido. Mas passa diferente.
Trabalhar em outra cidade pode ser uma experiência interessante, por ser diferente de apenas "tirar férias". Quando se viaja a passeio, tudo é mais tranquilo, e as diferenças culturais, por exemplo, tornam-se um ingrediente extra na diversão. No meu caso, esse ingrediente extra também existe, e é muito interessante, mas pode ser um problema, em uma viagem de poucas semanas, onde a variável tempo é determinante para o sucesso da empreitada. Não dá para se dar ao luxo de ambientar-se aos poucos, é preciso interagir com o meio imediatamente.
A vida no Rio de Janeiro é realmente diferente da vida nas outras (poucas) cidades por onde já passei. Mas é especialmente diferente de São Paulo.
Como toda grande cidade, aqui também é o reino do caos, do trânsito maluco, das ruas abarrotadas de pessoas no centro, dos vendedores ambulantes que gritam para vender seus produtos, das buzinas... Porém, parece que aqui as pessoas são mais felizes. Ao observá-las no corre-corre na hora do almoço, por exemplo, não vejos as mesmas expressões da Avenida Paulista, no mesmo horário. Elas não têm a cara fechada, nem muita pressa de chegar ao seu destino. Não ficam bravas se o motorista para na faixa de pedestre, e não hesitam em atravessar no sinal verde dos carros. Aqui também é muito fácil alguém que você jamais viu começar a conversar contigo, do nada, sem constrangimento. Isso significa, por outro lado, que alguns tipos de formalidade não existem. A impressão que tive é que as relações passam sempre por um registro informal, especialmente em alguns serviços, como nos cafés e restaurantes, por exemplo. Se a gente faz uma abordagem exageradamente formal, do tipo "por favor", "por gentileza", etc., isso pode atrapalhar o diálogo, que tende a ser mais rápido, do tipo curto e grosso. Percebo que as pessoas, nesses momentos, nem sempre entendem quando eu digo "muito obrigado", ao final de um atendimento - por ser, talvez, algo não muito comum. Falar demais, acredito, é correr o risco de não ser compreendido. Isso faz com que inúmeras vezes eu tenha precisado repetir o que disse, ainda que a língua seja a mesma (aliás, acho que o sotaque diferente tende a deixar o que eu falo mais incompreensível ainda).
E também há a coisa da cidade de aparência antiga. As construções do centro do Rio são sensacionais, monumentais e incríveis. A Biblioteca Nacional, por exemplo, é algo espantoso, tanto por fora quanto por dentro. Esse tipo de construção, que existe em todo o centro, deixa a cidade com uma cara antiga, o que, associado às ruas estreitas como a do Ouvidor ou a Travessa de Ouvidor, nos conduz a outro tempo, daqueles dos livros de história ou dos romances. Mas essas ruas de paralelepípedos, que de tão cheias de pessoas parecem calçadas, têm também veículos e motos, que não hesitam em buzinar para os tranquilos pedestres que ali perambulam.
Acho que é isso. É espantoso como uma cidade, em um mesmo país, possa ter diferenças tão marcantes em relação a outra, que fica a menos do quinhentos quilômetros de distância. O Rio é muito peculiar, mesmo. Não sinto, por exemplo, um contraste tão grande ao ir para uma cidade do interior de São Paulo, pois nessas cidades há um tipo de registro de vida urbana muito parecido com a capital do Estado, respeitando, claro, as proporções. O Rio, não. Tem uma identidade muito precisa, sobre a qual eu poderia escrever muito mais coisas. E tem tanto a ser dito: a mistura de culturas, a coisa da violência ao lado do pitoresco, as paisagens indescritíveis, a questão do orgulho do modo-de-ser-carioca, a preciosidade dos acervos públicos, paraíso de qualquer pesquisador, a arte nas ruas - enfim, um universo ilimitado que transita do caos ao sublime em questão de metros ou minutos.
Passadas essas primeiras semanas, acho que já estou me acostumando com o ritmo da cidade. E posso dizer que estou gostando, pois poderia escrever muito mais coisas aqui. Mas é bom deixar assunto para outros posts. Até outra hora, então!



Lagoa Rodrigo de Freitas, vista do Corcovado.

Foto: Anderson RT.

Um comentário:

Alexandre disse...

Eu desconfio que o meu sotaque sul-paulista-paranaense seria ininteligível em terras cariocas.