sábado, 18 de setembro de 2010

Sobre Paris, cinema e a ilusão

Quando terminei o post anterior imaginei fazer algo meio folhetinesco, numa sequência de acontecimentos. Não vou. Pois, se for assim, os dias vão passando e vou acumulando coisas que poderiam ser escritas, mas não estão na "ordem sequencial" (não sei se essa expressão é redundante, mas gosto dela assim). Assim, vou falar sobre uma parte do dia de hoje, que foi muito bacana e merece registro.
Logo cedo tomamos o café e fomos para Montmartre. Tinha duas coisas que queríamos fazer por lá, além, é claro, de conhecer uma nova região: ir ao cemitério do bairro, onde (creio eu) está enterrado meu caríssimo pintor Jean-Baptiste Debret, fantasminha camarada que me acompanha desde os tempos de graduação, ou conhecer o Café des 2 Moulins, onde foi gravado parte do filme O fabuloso destinho de Amélie Poulain. Não é difícil supor que optamos por ir ao café.
O bairro de Montmartre é muito bonito, tem, como posso dizer, uma cara bem francesa (?). Pequenos bistrôs, ruas estreitas, mesas nas calçadas e mercearias onde se vendem flores, frutas, legumes, frutos do mar e coisas assim, além, é claro, de muitos turistas. O café do filme realmente existe, mas há que se fazer algum esforço pra reconhecer o ambiente.
Por dentro, há muitas diferenças, além da mais óbvia que é a inexistência da tabacaria da personagem Georgette - que de fato havia, mas foi retirada quando o café passou para um novo proprietário. As redondezas do café, por sua vez, não são calmas como aquelas mostradas pelo filme, que na película são suaves como a própria Amélie. Isso só mostra que o cinema é, sim, uma arte, que pode até trabalhar com elementos do chamado "real", mas faz deles gato-e-sapato e cria uma nova realidade - nesse caso, muito mais interessante. Não que o lugar não tenha seu glamour - as fotos de Audrey Tatou espalhadas e a permanência de alguns elementos característicos, como o banheiro unisex e as luzes no balcão, não permitem que esqueçamos de onde estamos. É uma experiência muito legal.
Ainda na coisa do filme criar uma nova realidade, me pego aqui pensando na cidade de Paris que ele nos sugere: tão calma e vazia, mesmo quando as cenas são nas estações de metrô ou em praças públicas. Talvez por isso o filme seja tão agradável. Ele oferece um mundo meio mágico em que a personagem do filme supera, de forma intrigante, mas não menos apaixonante, sua incapacidade de se envolver profundamete com as pessoas. Não sei se as coisas tem que ter uma função, mas acho que o cinema, muitas vezes, oferece ao público experiências que só ele pode. Ele consegue criar um mundo diferente, mas em tudo parecido com o nosso. Isso é ou não é um tipo de magia? Eu diria mais, é bruxaria da boa!



(Esquina onde fica o Café des 2 Moulins, na rua Lepic, 15)


(Café des 2 Moulins, ambiente interno com fotos de Audrey Tatou)

(Fotos: Aquarelas na chuva - blog)

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INFORMAÇÕES SOBRE O FILME

Diretor: Jean-Pierre Jeunet
Elenco: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Rufus, Yolande Moreau, Artus de
Penguern, Urbain Cancelier, Dominique Pinon, Maurice Benichou.
Trilha Sonora: Yann Tiersen
Duração: 120 min.
Ano: 2001
País: França




Um comentário:

Aline-NC disse...

Amo esse filme. Dia desses assisti de novo e me encantei ainda mais. Certeza que este será um ponto que eu vou visitar um dia! :)