domingo, 21 de novembro de 2010

Potiche

Outro dia fui assistir ao novo filme do François Ozon (Potiche, 2010), não apenas porque gosto desse diretor, mas porque era tanta publicidade pela cidade que minha curiosidade aumentava a cada dia.
Dos filmes que assisti desse diretor, a maioria, sem sombra de dúvida, é carregada de tamanha densidade e momentos de tristeza ou sofrimento que eu meio que duvidei do "colorido" dos posters espalhados pelas ruas. Duvidei se tratar de um filme divertido. E eu me enganei. O filme é muito engraçado, e o elenco não deixa a peteca cair. Catherine Deneuve arrasa como a dona de casa de vida monótona à sombra do marido, um grande empresário do ramo de guarda-chuvas. É essa situação, esse papel, que os franceses chamam de "potiche". Porém, em razão de uma reviravolta na trama, Suzane (Deneuve) vê-se diante da possibilidade de virar o jogo e tornar-se alguém importante, mostrando-se uma verdadeira lider carismática.
O filme, claro, é repleto de ironia e aponta certa hipocrisia da sociedade francesa do inicio dos anos 80, a falsidade de valores familiares como fidelidade, dedicação aos filhos, ao lado de interesses políticos e econômicos. A trama se desenrola de forma leve e despretenciosa, carregada de cores vivas e vibrantes, que jamais vi em um filme de Ozon - talvez no musical 8 Mulheres, só que bem mais interessante (se cuida, Almodóvar!).
O filme acaba por ser uma homengem à força da mulher e ao seu poder carismático. Pode até estar carregado de ironia, e infinitos clichês. Mas na última cena, em que Suzane canta o clássico C'est beau la vie (A vida é bela), de Jean Ferrat, me vi tão contagiado quanto sua plateia no filme (não vou dar maiores informações sobre o assunto, não custa evitar spoillers!), que tive vontade de cantar o refrão junto. É delicioso, e em tudo diferente dos filmes anteriores de Ozon - que eu adoro, diga-se de passagem - mas revelando um tipo de otimismo que nunca supus ver em um filme dele.
Recomendo, afinal, às vezes a vida pode ser uma m***a, mas ela é mesmo bela.



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