quinta-feira, 27 de maio de 2021

Mente sã etc.

Mente sã, corpo são. Sempre achei essa frase interessante, mas não sei bem se a relação causal é adequada. Hoje estava lendo um texto* que falava sobre como nossos corpos não são meros resultados dos processos sociais, mas também constroem e transformam a sociedade. O fato de darmos sentidos ao ser biológico que somos não faz com que deixemos de ser orgânicos. E, dentro disso, oscilamos entre saúde e doença o tempo todo de nossa existência. Portanto, cuidar do corpo é importante; a mente também é corpo, afinal de contas, e essa separação, quanto muito, é teórica. Mas o fato é que nunca gostei de praticar exercícios físicos. Nunca. O que não significa que não tenha praticado esportes na infância ou adolescência, mas sim que nunca gostei de academias, nem mesmo de correr por aí. Caminhar é o que me diverte e isso sempre fiz, mas sem regularidade. Daí veio a pandemia e, com ela, vários quilos a mais. Eu já vinha apresentando um histórico de desequilíbrio metabólico, se posso chamar assim meu colesterol ter subido a níveis preocupantes, a ponto de um cardiologista me receitar remédio alopático. Pensei seriamente em fazer uso disso, tendo em vista um histórico familiar preocupante. Mas o meu médico de sempre, aquele que me acompanha, me disse para não fazer isso e, ao invés, levar a sério uma reeducação alimentar, praticar exercício físico e passar a tomar um remédio fitoterápico (ele é adepto da medicina não ocidental). Nunca na vida consegui fazer qualquer dieta, por isso fomos a uma nutricionista, que nos mostrou um caminho bem tranquilo para isso, sem cortes radicais, mas com atenção à moderação e inclusão de fibras na alimentação: leia-se: frutas, legumes, verduras, grãos e lácteos. Sem tirar o sagrado arroz com feijão que amo e é a base da minha alimentação. Essa dieta suave, mas caminhadas regulares (em uma esteira ergométrica, pois não gosto de sair caminhar durante a pandemia), fez com que, em quatro meses, perdesse 8 quilos na balança e quase 100 pontos nos níveis de colesterol, além do reequilibro em vários outros índices. Nesse dieta, uma das maiores recomendações da nutricionista era diminuir ao máximo o vinho. Realmente, isso não aconteceu, talvez um pouco, mas nem perto do que ela gostaria (meia garrafa por semana!). No fim, penso que a alegria proporcionada pelo vinho, que tanto amo, foi um ingrediente importante para a saúde do espírito, da mente, e, consequentemente, do meu corpo. De modo que percebi que é possível, mesmo após os 40, se reeducar. Foi realmente um processo transformador. E, sim, estou muito feliz de poder vestir novamente algumas camisas que estavam no guarda-roupas há anos. 


Olivia Newton-John - Physical (1981)



* CONNEL, Rayween, PEARCE, Rebecca. "Corporificação social e arena reprodutiva". In: Gênero: uma perspectiva global. São Paulo, nVersos, 2015.


quarta-feira, 26 de maio de 2021

Trabalho

Muitas vezes me pego ansioso ou angustiado por conta de tarefas a realizar. Às vezes, acordo de manhã e, entre o do despertador, quando que penso em dormir mais 10 minutos, e o susto relacionado ao trabalho por realizar, dou aquele pulo. É algo muito curioso isso, o modo como tentamos a todo tempo enlouquecer (eu sei que existe um conceito psicanalítico para isso, mas nem vou me arriscar aqui). Quando penso em minha agenda, fico com medo de não dar conta das tarefas, mas olhando para o passado, em perspectiva, sempre foi assim, desde a faculdade, pelo menos. E tudo sempre foi realizado, de um jeito ou de outro. Tem horas que penso que a agonia é o tempero que dou ao meu trabalho, de modo a dar mais emoção às coisas, sei lá... claro que falo disso na minha terapia. Tive uma criação na qual o trabalho era imensamente valorizado, e carrego isso comigo. Estar aqui, por exemplo, escrevendo um post, me faz oscilar entre o prazer da escrita e a culpa por não estar fazendo algo mais produtivo ou relacionado às minhas obrigações. Mas lembro do tempo do meu doutorado, em que esse blog bombava, e sempre foi um modo de organizar as ideias e treinar a escrita, algo que, de todo forma, ainda compõe a maior parte dos meus afazeres. Escrever é uma terapia em si, e sempre foi uma ferramenta poderosa na minha constituição. Por isso, talvez, esse blog ainda exista. 

sábado, 15 de maio de 2021

O que você realmente deseja?

Tenho assistido a uma série chamada Lúcifer.* Não é lá grande coisa, mas tem sido um passatempo gostoso, leve, despretensioso, para ver durante o almoço, na hora do cafezinho. Tudo, porém, pode ser mais interessante do que parece à primeira vista. Lúcifer, o anjo caído dono de um nightclub em Los Angeles, se aproxima de uma detetive por quem, aparentemente, tem alguma ligação transcendental e acaba se tornando seu parceiro na luta contra o crime. A trama é simples e nem de longe se assemelha aos seriados policiais diversos e renomados no estilo CSI que há anos são consagrados pelo público. O mais interessante em Lúcifer, porém, é seu poder, que consiste em saber o desejo mais profundo das pessoas. Sua pergunta "o que você realmente deseja" torna-se, muitas vezes, a chave para a solução dos crimes. Parece bobo, mas comecei a exercitar comigo mesmo o que eu diria se Lúcifer me perguntasse isso. Claro, há inúmeras coisas obvias que vêm à mente, mas será que paramos para nos fazer essa pergunta no dia-a-dia? Hoje, por exemplo, eu fiz várias coisas que queria fazer de fato, muitas delas relacionadas ao trabalho, coisas bacanas que me fizeram feliz. Depois disso, pensei em dar uma corridinha na esteira, meu único exercício físico regular na pandemia, pelo menos desde janeiro. Daí pensei: "Será que é isso mesmo que eu quero fazer? O que, de fato, eu desejo fazer, agora?" E era tomar um banho quente, pedir uma pizza e escolher um filme para a noite de sábado. Abrir um vinho também apareceu nesses planos. Fiquei feliz demais com essa decisão, e sobre como não me violentei fazendo algo que, hoje, não, era meu desejo. Assim, num seriado água com açúcar cheio de clichês e um roteiro bem fraquinho, encontrei algo interessante e que pretendo exercitar cotidianamente. Parece simples, mas, pergunto: o que você realmente deseja? Vai ver que a resposta pode ser bem difícil de se dar, assim, de supetão.



"Agora descubra de verdade o que você ama, que tudo pode ser seu" 

(Marina Lima. Pra começar.)



https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucifer_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o)