quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amanhã é 29


O Nietzsche fala que só se deve escrever sobre uma situação quando ela já tiver sido superada. Bem, de todo modo venho aqui para escrever sobre algo que ainda não se resolveu, mas não deverá passar de amanhã! Trata-se da minha defesa de doutorado, momento máximo, no sentido acadêmico, dos últimos 4 anos da minha vida. Desde 2007 venho realizando esse trabalho de pesquisa, e amanhã será o grande dia. Muitos sentimentos se misturam, mas em geral a sensação de estar em vias de cumprir uma etapa importante da minha formação é muito boa. Claro, há também a ansiedade promovida por toda a idéia que envolve essa espécie de ritual: pessoas falando sobre meu trabalho, me questionando, cobrando posturas, respostas, enfim, não dá para saber exatamente o que irei ouvir. Talvez isso seja, ao mesmo tempo, o mais terrível e o mais excitante de tudo.
Durante todo este mês escutei a mesma pergunta: "e então, está nervoso?". Curiosamente, a resposta era sempre negativa, porque, de fato, eu não estava. Hoje posso dizer que estou um pouco ansioso, mas não é, necessariamente, uma ansiedade ruim, mas, antes, boa. Boa porque reflete a seriedade com que realizei o trabalho, e por isso mesmo não há como fingir que não é um momento sério, que deve ser encarado como tal. Há, ainda, uma imensa alegria, por motivos que também são vários. Lembro-me da vontade que eu tinha de entrar na escola, quando ainda morava na zona rural, e de como enchia o saco de alguns irmãos para "brincar de escolinha", de modo que nessa brincadeira eu aprendia a ler e escrever. Lembro-me também da dúvida sobre o que faria no colegial (magistério, técnico?), e de como acabei entrando na faculdade de ciências sociais sem saber, ao certo, o que isso significava; e lembro-me, mais ainda, de como me apaixonei pelo curso, e especialmente pela sociologia, motivo pelo qual decidi seguir a carreira acadêmica nessa área. Nada disso sozinho, mas sempre tendo, ao meu lado, gente muito especial que me motivou e me fez acreditar que era possível.
E cá estou, escrevendo o último post antes de minha defesa de doutorado em sociologia. Amanhã é um dia muito esperado, não sem ansiedade e algum nervosismo, mas, acima de tudo, com muita felicidade. E, ao meu lado, assistindo, haverá pessoas que muito prezo e que farão desse dia, realmente, um dia muito especial. A essas pessoas eu deixo, aqui, meus sinceros agradecimentos, bem como aos leitores do blog, que acompanham um pouco da história dessa tese desde o começo.
Agora chove lá fora e eu estou um pouco resfriado, mas bem melhor do que estava ontem. No forno está assando um bolo de fubá que eu fiz. Adoro bolo de fubá. E assim a vida segue: nem tanto às teses, nem tanto aos bolos de fubá. Quem sabe assim, um dia, a gente realmente encontre o tão sonhado equilíbrio.



Alguns posts relacionados:

- La question
- Passado, presente e futuro
- Pequenos prazeres de uma vida neurótica
- A tese (getting started)

- Auto-biografia profissional



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sobre o pop elegante do Roxette


Escuto Roxette desde que tinha 14 anos. Não venho de uma família de tradição musical, em casa nem mesmo tinha aparelho de som. Nos anos 90 meu irmão apareceu em casa com um rádio gravador mono, o que foi minha grande alegria, e dele eu não me desgrudava, passava o dia ouvindo FM e gravando fitas K7. Poderia dizer “bons tempos”, pois, de certa forma, esse hábito era divertido e hoje em dia os jovens não tem a menor dimensão do seu significado. Mas também era triste. Afinal, gravar fitas não era uma opção, mas a única, visto que eu não tinha dinheiro para comprar fitas originais, e as piratas eram de uma qualidade horrível, além da maioria das músicas virem cortadas pela metade.
Enfim, foi no embalo dessa minha então nova paixão pelo rádio gravador do meu irmão que eu conheci o Roxette, em 1992. Na verdade eu os conhecia antes, pois eu assistia novelas, e a música Listen to your heart (Look Sharp!, 1988) havia feito parte da trilha da novela Sexo dos Anjos, da Rede Globo de Televisão. Mas na época eu não dei muita importância para o fato. Em 1992, porém, novamente aparecendo em uma novela da Globo, agora Perigosas Peruas, o Roxette chamou de vez minha atenção com a balada Spending my Time (Joyride, 1991). Foi o que podemos chamar de amor à primeira escutada. Provavelmente, então, eu achasse que Roxette era o nome de uma mulher, que cantava com um guitarrista (acredito que hoje em dia há muitas pessoas que ainda pensam dessa forma), mas em pouquíssimo tempo eu me tornaria fã e passaria a acompanhar tudo sobre a dupla. Aliás, “acompanhar” não tem, tampouco, o sentido de hoje, em que tudo se resolve com um clique. Era bem difícil saber das notícias mais recentes, e, não raro, um novo disco era, realmente, uma surpresa que por vezes acontecia na própria loja. De certa forma, tenho saudade daquela sensação.
Enfim, desde então escuto essa dupla, e jamais duvidei de sua qualidade musical. Aqui no blog já escrevi sobre a sua discografia algumas vezes (links no final da postagem), mas reitero aqui que, dentro do universo absolutamente genérico e indefinido chamado “pop”, o Roxette é o responsável por uma imensa coleção de melodias simples e diretas, adultas e, nem por isso, entediantes, que sempre foram boa companhia para mim. Suas letras não são complexas, antes um amontoado de versos sobre o amor ou a amizade, ou sobre a simplicidade da vida, descrita, por exemplo, como uma sequencia de “la la la's” em June Afternoon (Greatest hits, 1995). O tempo passou e todos ficamos mais velhos; é redundante, dessa forma, mesmo. Hoje ainda escuto Roxette, e suas músicas continuam sendo boa companhia em muitos momentos. Nunca outra banda ou artista pop conseguiu a mesma façanha, ainda que eu procurasse outros referentes. Receber a notícia de que eles voltariam a gravar juntos e, mais do que isso, sairiam em turnê mundial, foi uma das melhores notícias que eu poderia ter. O novo CD se chamou Charm School (Escola de Boas Maneiras, 2011), o que não deixa de ser um puxão de orelha da veterana dupla nos jovens artistas que dizem fazer música pop por aí, algumas vezes imaginando que para tal basta se vestir de maneira exótica ou cantar esporadicamente com convidados da mesma idade e gravadora. Talvez esses jovens artistas precisem, mesmo, de um pouco de boas maneiras, e quem sabe, assim, o pop melhore. Mas para mim isso já não importa, pois o que gosto de ouvir continua tão bom como antes, e ir ao show deles no dia 14 de abril, aqui em São Paulo, foi uma experiência inesquecível, sobre a qual vou escrever aqui no blog em breve. Enquanto isso, Sleeping in my car, versão ao vivo gravada em Stavanger (Noruega)* no ano passado, corre frouxa no meu som... afinal, guitarra pouca é bobagem, e "the night is so pretty and so young! Yeeeeah!"





Posts relacionados:


- Resenhas sobre a discografia do Roxette (até 2006) (parte 1, parte 2, parte 3)
- Sobre Charm School, novo álbum

* Faixa do segundo disco da versão Deluxe do CD Charm School (2011), gravado ao vivo em Stavanger, Halmstad e S. Petesburgo, em 2010.