O menino corre pela grama. Olha os bichos, sente o vento. Mas não sente o cheio de mato que ouve falar na TV. Qual será o cheiro do mato? O menino gosta dos dias de chuva. Neles, o pai e os irmãos vêm mais cedo pra casa, e tem chá mate quentinho pra beber. A mãe vai buscar ele na escola. Não que ele não goste de estudar, mas não gosta muito da escola. Sente-se um estranho lá. Se chove muito, mas muito mesmo, tem enchente no rio. O rio é longe de casa. Dois quilômetros, talvez. Ir ao rio é sempre um evento. Em dias que tem enchente todos vão lá ver como tudo é diferente. A comida é quente, porque é feita no fogão à lenha. As visitas da cidade sempre falam: que gostosa é a comida de fogão à lenha. O menino só entendeu isso quando teve que comer comida feita na cidade, com aquele gosto ruim, que mais tarde saberia que é de cloro. Susto do menino foi saber que as gentes compram água para beber na cidade. Como assim, pagar algo que sai do chão, pronto? O leite também era comprado, e vinha em saquinhos plásticos. Horrível. Muito diferente do leite da vaca Violeta, que era cor de caramelo e fazia tanta nata que se comia com açúcar, como se fosse doce de leite. Mas o menino achava tudo isso pobreza. Queria a vida da cidade, que era limpa, não tinha moscas voando sobre a comida e nem bicho de pé. Que tinha roupa bonita de loja e não a feita pela mãe na máquina Singer. Que tinha carro, que tinha tudo lindo, mas também tinha um cheiro de fumaça que deixava ele enjoado. O menino só tinha o cheiro do mato, a família reunida nos dias de chuva, e muita vontade de ficar grande logo e conhecer o mundo. Ele ainda não conhece nada. Mas escreve sobre essas coisas e fica até feliz.
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