quarta-feira, 2 de maio de 2007

Debret

Gostaria de escrever todos os dias nesse blog. Mas isso não seria bom: acabaria se tornando uma obrigação, uma busca louca por assuntos, na tentativa de ser original eu acabaria me chateando e desistindo. Por isso, quando sento aqui é porque tenho realmente algo a dizer. Hoje quero falar um pouco sobre Debret. Você o conhece ?

Jean Baptiste Debret era um pintor, nasceu em Paris em 1768 e morreu nessa mesma cidade em 1848. Ele vivenciou toda a turbulência da Revolução Francesa, sendo um pintor engajado, tornando-se, em seguida, um dos artistas que serviam a Napoleão Bonaparte, para quem realizou muitos quadros... Mas Napoleão não foi imperador por muito tempo, e quando ele perdeu o poder, Debret, assim como vários companheiros, não tinham mais terreno profissional na França, e ele acabou vindo trabalhar no Brasil. Sim, no Brasil, como pintor da Corte de nosso primeiro rei, d. João VI.
Estamos no ano de 1816, e o Brasil era então um Reino; d. João, ainda príncipe regente, entendeu que seria uma boa idéia criar uma escola de Belas-Artes (essa história é um tantinho mais complicada, mas aqui não seria o lugar de aprofundá-la... tem um bocado de livros sobre o assunto por aí, outra hora eu indico - me lembrem!). Um grupo de franceses, que ficou conhecido historicamente como Missão Artística de 1816, foi contratado para realizar essa tarefa - e entre eles estava Debret, o pintor de história (um pintor desse tipo realizava trabalhos cujos temas eram sempre cenas gloriosas, de batalhas, conquistas, ou mesmo cenas da bíblia ou da mitologia; também incluíam-se no rol de temas cenas de importância política, como coroações, por exemplo). Com isso Debret foi um dos nossos primeiros pintores de Corte, e nessa tarefa realizou vários retratos de nossa monarquia, bem como criou várias imagens sobre acontecimentos oficiais, como coroações, batizados e outros festejos reais.
Fora isso, Debret também criou muitas imagens sobre o Brasil, não apenas sobre os monarcas, mas também sobre a vida cotidiana no Rio de Janeiro da época, que era composta, em grande parte, pelos escravos que povoavam as ruas.
A obra de Debret, portanto, revela tanto a vida dos grupos de elite quanto da população mais pobre, e esse contraste é o que há de mais rico em sua obra. Talvez por isso Debret tenha sido minha companhia durante o mestrado, e hoje ainda tento estudar a sua importância para a imagem que temos do nosso próprio passado.

Confira a análise que faço de uma aquarela de Debret no artigo:

(Atualização em 13/06/2013) - E aqui, minha tese de doutorado sobre o pintor: Velhas imagens, novos problemas: a redescoberta de Debret no Brasil modernista.


É isso.

Um comentário:

Cristina disse...

Quanta cultura nesse blog, meu Deus! Claro, não poderia esperar outra coisa vinda de você! ;]