domingo, 24 de agosto de 2008

"Lemon Tree"

| atenção: o post contém algumas revelações sobre o enredo (spoilers) |

O filme começa com limões, muitos, vários, e vamos nos deixando seduzir pelo jeito com ela os fatia, um a um, de modo que quase sentimos o cheiro do sumo, chegando causar arrepios a sensação de azedo. Cada fatia é colocada em um pote, que, quase cheio, é completado com pimentas vermelhas igualmente fatiadas, um pouco de sal e óleo para conserva. Delicadamente ela fecha o pote, dá uma leve sacudida, e o coloca ao lado de outros vários, que já estão na prateleira. Por isso imaginamos que todo aquele trabalho é realizado como fonte de renda, e não para consumo próprio. Mas o carinho com que ela realiza a tarefa permite pensar que é também algo prazeroso. Trata-se de uma tradição, sua família cultivava limões há cinqüenta anos naquele mesmo lugar. Mas agora apenas ela habitava a velha casa, pois além de viúva, seus filhos, todos adultos, tinham suas próprias vidas. No cultivo dos limões era ajudada por um senhor que ali trabalhava há quarenta anos, e que a tinha como filha. A maneira como ela lidava com aquela pequena plantação, a julgar pela beleza das árvores e frutos, faz pensar como aquilo era algo sério em sua vida, que lhe garantia não apenas alguma renda, mas um passado, um história e, com isso, uma identidade, em um lugar onde isso era improvável. Agora explico: trata-se de uma mulher palestina, Salma, cujo quintal ficava bem na divisa com Israel. Tudo corria bem até o Ministro da Defesa construir sua residência em frente à sua propriedade. Alegando que a plantação de limões poderia servir como esconderijo para terroristas árabes, o Ministro ordena a destruição de todos os limoeiros. Apesar da possibilidade de receber indenização, Salma não aceita essa decisão, e passa a lutar judicialmente contra Israel, em um embate que ganha a mídia e põe em questão a liberdade individual e os limites de um Estado autoritário.
A plantação de limões, algo aparentemente prosaico e pequeno demais em relação às questões como a defesa do país, a guerra, etc, altera o modo de vida de todos os personagens, e deixa evidente, em uma análise mais geral, como o indivíduo, especialmente naquela sociedade, é totalmente anulado em razão de algo maior. Suas vontades não poderiam existir, a menos que elas coincidissem com a vontade do Estado.
Porém, se o filme não tem exatemente um final feliz, ele aponta algumas possibilidades, sugerindo que o indivíduo pode, sim, ter algum espaço de ação, ainda que os resultados sejam, aparentemente, insignificantes. Mas vale a pena perceber que o esforço não foi em vão. No final, um grande muro de concreto seria levantado entre as duas propriedades, de modo que o Ministro da Defesa teria em seu jardim uma enorme sombra, enquanto o sol reinava soberano sob os limoeiros de Salma que, apesar de mutilados, permaneceram vivos.




Um comentário:

Cristina disse...

Tá passando no cinema, é? Achei mto interessante.