quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pessoas

Admito, tem horas que eu odeio só uma coisa no mundo: as pessoas. Topa-se com tanta falta de gentileza e modos por aí, em todo lugar, que dá vontade de ficar em casa e pronto. Mas, eu sei, isso não é uma regra. O melhor do mundo, na verdade, são as pessoas.
Hoje foi a festa de confraterznização do Cérise, associação comunitária da região de Paris onde moro e onde uma vez por semana participo de reuniões de conversação em francês. Nesse lugar, onde há as mais diversas atividades e cursos a preços módicos, existe esse curso de conversação para estrangeiros, que é gratuíto. Lá eu e o Alê conhecemos muita gente interessante, de vários lugares do mundo, e todos, claro, temos que conversar em francês. A experiência é incrível. Em nossa turma há alguns turcos, uma inglesa, uma escocesa e uma japonesa. As professoras, claro, são francesas e pessoas extremamente amáveis.
Hoje, na festa de confraternização, todos os níveis de curso se reuníram, e as pessoas levaram comidas de seus respectivos países, tudo muito gostoso e interessante. De todo modo, fiquei mais próximo da minha turma, e foi muito legal pois, regada a vinho bom e comidas gostosas, qualquer conversa(ção) fica mais interessante e desinibida. É realmente interessante saber coisas sobre o modo de vida de outros povos, suas comidas, bebidas, sentimentos, e, da mesma forma, explicar nossas idiossincrasias para essas pessoas. E, com isso, o francês vai se tornando cada vez mais presente na vida.
Antes de vir para Paris eu tinha feito um curso de um ano, o que era suficiente para ler textos acadêmicos. Eu imaginava que esse francês seria suficiente para chegar aqui, e que em pouco tempo eu estaria "craque". Doce ilusão. Chegar aqui foi a constatação de que eu não sabia nada, e que conversar sobre o troco no supermercado seria tarefa inexequível. Tive então a certeza de que eu não iria aprender nada, e deveria me contentar com minhas leituras na biblioteca que, de todo modo, eram a única coisa importante para a realização das minhas pesquisas de doutorado. Mas depois de entrar nesse grupo de conversação as coisas melhoram muito, e de pouco em pouco meu ouvido foi se acostumando com as conversas, e minha timidez diminuiu, a ponto de eu poder dizer, agora, "não entendi, dá pra repetir mais devagar?".
A lingua é uma ferramenta, útil, importante, e necessária não apenas para ler bons livros em outro idioma, mas para interagir com outras pessoas. Uma coisa ajuda a outra, e assim vai...
O mais legal é isso, fazer amizades, e conhecer outras realidades. Só posso falar por mim, mas mesmo tendo vindo acompanhado para um país estrangeiro, a vida pode ser muito difícil, por mais que se trate de uma cidade cosmopolita. O que faz a diferença é a interação com o mundo, com as pessoas. Partilhar experiências enriquece a mente e fortalece as emoções. Ser estrangeiro nunca é fácil, mas quando se compartilha as próprias experiências, tudo fica muito mais fácil e divertido. Afinal, o melhor do mundo são as pessoas.

2 comentários:

Unknown disse...

Ma chère, VOcê tem toda razão no mundo há muitas coisas fascinantes e uma delas são as pessoas. Ainda mais quando conseguimos compreendê-las e nos despojar de nossa forma de ver o mundo e nos deixamos permitir a entender a percepção de mundo do outro.Mas devo confessar que isso não é fácil.

Cecilia disse...

São nessas horas que se sente esse amor pelas pessoas - quando há uma troca, não tem coisa mais prazerosa. E em outra língua, então? Ê beleza!

Aproveite a neve, moço! :)