segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Revelações

Faz tempo que vejo na gaveta da escrivaninha um filme fotográfico de 12 poses para ser revelado. Muito tempo, aliás, pois essa gaveta foi só a sua morada mais recente, depois de ter passado por várias caixas e armários variados, e, possivelmente, outras gavetas. Eu sequer sabia a data em que as fotos haviam sido tiradas, e muito menos o seu conteúdo. Podia ser qualquer coisa. Qualquer coisa! Já imaginou isso? Que excitante imaginar o que havia ali, depois de tanto tempo protelando sua "revelação". Aliás, poderia haver melhor palavra para esse miraculoso processo? Seria mesmo uma revelação, eu não fazia idéia do que se escondia ali, envolvido por uma capinha verde e branca.
Daí hoje, motivado por sabe-se-lá-que-força, levei o tal filme para ser, enfim, revelado.
Duas horas depois, lá estava eu, prestes a ter revelações bombásticas sobre um passado que eu nem sabia qual era. E agora sei!! Eu vi as fotos!! Das 12, apenas 8 saíram, as demais "queimaram". E das fotos válidas, quase todas apresentam um clarão magenta no canto, o que indica que por poucos elas também não se perderam para sempre. Mas agora estão a salvo!
As fotos são de 2002, tempo em que a gente morava na Fradique, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Não foi um ano muito fácil, mas em julho minha irmã e meu sobrinho, que então tinha 9 anos apenas, vieram passar as férias escolares em casa. Ao ver as fotos, algo que estava embaçado em um passado não muito distante veio à tona, tudo o que envolveu aquela visita, nossa ida ao Playcenter, o medo que meu sobrinho teve no Polvo e o catchup que derrubei na calça do Alê, que ficou fulo! E muito mais coisas... Tudo e muito mais por conta de 8 fotos.
Hoje as coisas não são mais assim. Ao contrário, a gente tira centenas de fotos por vez, poucas vezes as olha de novo, e mais raramente ainda as leva para "revelar" - palavra usada indevidamente, pois em fotografia digital não há nada mais a ser revelado. Nesse ponto, a coisa perdeu um pouco a graça. É tão raro as pessoas levarem esse tipo de material para revelação, que a moça nem sabia me dizer quanto ficaria o serviço, precisou "consultar suas bases".
De qualquer maneira, valeu a pena esperar 5 anos para ver o que tinha nesse filme. Foi, para mim, uma boa surpresa de Natal.

"a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja, no momento em que é reconhecido" (Walter Benjamin).
(A gente no Splash!, Playcenter, 2002)



3 comentários:

GMS disse...

É isso aí Anderson. Talvez a máquina fotográfica nos tire a sensação de surpresa diante de coisas que o momento vivido ocultou, por nossa própria emoção e distração no tempo, mas a foto capturou... Quanta coisa a gente via, que não havia reparado, quando revelava as fotos né... Agora a gente tem mais autoridade ao enquadrar os momentos, mas ainda bem que juntos de quem amamos todas as imagens acabam sendo emocionantes... O tempo sempre fazendo milagres tira de nós até essa aparente autonomia.... Um grande beijo pra vc e o Alê, adoro o seu Blog!!! Gleicy

Cristina disse...

Cara, isso é uma coisa cada vez mais rara de acontecer. Até eu que sempre fui um tanto avessa à tecnologias, estou me rendendo à câmera fotográfica de celular...

Tania Capel disse...

nossa, eu lembro da ansiedade pra ver se as fotos iam "sair" e como iam "sair"... e quantas fotos perdidas!! adoro fotos, tenho uam caixa cheia dessas lembranças da infãncia...

boa idéia... preciso transformar muitos arquivos digitais em arquivos de papel...

adorei a frase do benjamin
beijos mil